Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mais frequência sexual eleva a sensação de felicidade?
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Para quem gosta da prática sexual e a realiza com qualidade, os efeitos benéficos podem ser sentidos facilmente: relaxamento, descarga de tensão sexual, diminuição de ansiedade, sensação de bem-estar, aumento de foco, motivação e autoestima. Mas será que aumentar a frequência sexual garante maior sensação de felicidade? Embora pareça plausível que essa relação seja positiva, é igualmente possível que a felicidade afete o sexo ou que uma terceira variável, como a saúde, por exemplo, afete ambos.
Um estudo norte-americano recrutou casais sexualmente ativos que estavam dispostos a mudar seu padrão de comportamento sexual e, de maneira aleatória, os dividiu em dois grupos. Um foi orientado a dobrar a frequência de relações sexuais semanais e o outro a mantê-la. Os pesquisadores descobriram que maior frequência não se correlaciona diretamente com maior felicidade, levando-se em conta o viés de "ter que fazer mais sexo" como uma prerrogativa para o estudo, uma motivação extrínseca. Aliás, o efeito observado foi inverso: leve diminuição no desejo sexual e mudanças negativas de humor.
Embora as pessoas saibam que o sexo pode aumentar a sensação de bem-estar e melhorar a intimidade do casal, há um distanciamento entre a imaginação e o estado afetivo em que as pessoas se encontram.
É muitíssimo comum ouvir das pessoas que, durante o dia a ideia de chegar em casa e fazer sexo pode lhes invadir a mente, alegrando-os, mas que tudo muda mais tarde, quando a situação concreta atravessa a disposição e exige energia para a realização de tarefas, conflitos ou simplesmente a necessidade de descanso.
Quanto mais tempo juntos, mais os casais se adaptam um ao outro, de modo que o contato visual e tátil resulte em menores níveis de desejo sexual, necessitando de mais estímulos que interessem eroticamente —o que uma casa cheia de tarefas e demandas certamente não proporciona.
Para que um casal aumente a sua frequência sexual e a correlacione com maior sentido de felicidade, é importante que a motivação seja intrínseca. Ou seja, um casal pode desejar fazer mais sexo por acreditarem que isso lhes fará muito bem, ou porque querem descobrir novas atitudes e comportamentos sexuais, fetiches, prazeres. É muito perceptível para nós, terapeutas sexuais, quando uma pessoa ou casal de fato acredita que aquele trabalho lhes fará bem e será uma deliciosa jornada.
Fica visível, quando alguém se mostra resistente, irritado ou frustrado quando a parceria demonstra o desejo de se engajar na prática sexual, sem que se esteja aberto para isso.
Fazer sexo por obrigação, nesse sentido, é um fator negativo, que se correlaciona com menos sensação de felicidade, já que não há uma conexão entre frequência e prazer. Mesmo que a ideia de frequentar um terapeuta sexual seja positiva, ela não basta. "Eu gostaria de fazer mais sexo com minha parceria" precisa ser uma vontade interna de ter prazer e não só uma ideia racional para solução de problemas.
Há que se levar em conta, também, que a fantasia da frequência sexual "ideal" pode provocar frustração quando não atingida, gerando insatisfação. Além disso, a diretriz de ter mais sexo pode expor "falhas" no relacionamento do casal, que de outra maneira não seria tão evidente.
Esses achados podem também nos ajudar a entender como a pressão de um dos pares por sexo, principalmente quando a comunicação é destrutiva —porque envolve acusação, ironia, manipulação, chantagem ou agressões—, faz o efeito contrário na motivação sexual, piorando o humor.
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