Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Marido descobre traição e, para agradá-lo, mulher finge não gozar
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A Sarah é dentista e tem 35 anos. Ela é casada com o Mauro, um engenheiro bem-sucedido de 38 anos, meticuloso e gente boa. Eles estão juntos há 8 anos, são sociáveis, gostam de viajar e quando se encontram a noite, em casa, assistem filme ou jogam xadrez. Às vezes as duas coisas. Eles gostam de sexo e o fazem com uma frequência que agrada a ambos. Como vocês podem ver, estava tudo correndo bem na vida deles.
Não fosse pelo fato de que a Sarah se deparou com um ex-namorado, que virou seu paciente para um tratamento desses prolongados. Entre memórias dos tempos idos e piadinhas com segundas intenções, olhares profundos, foi renascendo um desejo, a boa lembrança de quando o fogo ardia naqueles corpos. Embora Sarah me dissesse que era só uma brincadeira gostosa entre velhos conhecidos, a gente sabe sempre onde isso vai parar. Não deu outra: foi numa tarde de quarta-feira, quando eles se beijaram, após o clássico e final bochecho com enxaguante bucal.
O sexo aconteceu de maneira explosiva e intensa, seguido de "o que foi que nós fizemos meodeus, isso não pode se repetir'. Mas ele ainda tinha um canal para terminar, duas restaurações e uma limpeza para fazer, e ela que é uma moça responsável, não ia deixar o trabalho mal-acabado. Juntaram a fome com a vontade de comer.
O problema é que um dia o Mauro fez uma 'busca e apreensão' no celular da mulher e descobriu algumas trocas de mensagens que revelavam o caso.
Atualmente, com as relações se dando no espaço tecnológico, é muito mais doloroso descobrir uma infidelidade, lendo todas as mensagens trocados entre os amantes, as juras de amor, os apelidos carinhosos e os eróticos. Os dias que se encontraram e que ele(a) mentiu aonde ia. Se antes dessa tecnologia toda, era só possível imaginar o que a sua parceria fez na cama com a outra pessoa, agora dá para, inclusive, avaliar o tamanho de um pênis, caso ele seja protagonista de uma nude enviada por whatsapp.
Mas, recaiu sobre o Mauro a consciência de que ele também não é esse ser humano de moral ilibada e irretocável, pois já deu seus pulos fora do casamento. Somado a isso, ele gosta tanto da Sarah, que depois de semanas de conversas intermináveis, choros, abraços, terapia de casal, socos na parede e sexo selvagem, eles decidiram seguir adiante e superar a crise que os acometeu. Estão afinando a comunicação, focando no cuidado um com o outro, enquanto retomam aos poucos o controle de suas vidas, depois do tsunami que os surpreendeu.
O problema é que toda vez que fazem sexo e Sarah vibra de prazer quando está prestes a gozar, Mauro questiona se ela não está, na verdade, pensando no ex-namorado. Várias vezes parou o sexo bem nesse momento, ou chorou depois, teve dias que foram as duas coisas e outro que ele ficou tão irado que estilhaçou na parede o copo d'água que ficava na cabeceira, a primeira coisa que ele conseguiu alcançar.
Raiva, ressentimento, tristeza, humilhação. E então segue-se um tempo até que ele possa se acalmar, com Sarah o convencendo que não tem nada a ver, que ela está ali inteira, de corpo e alma.
Durante todos esses anos de trabalho, eu já ouvi centenas de mulheres que fingem orgasmo para agradar seus parceiros, evitar confrontos de egos feridos ou simplesmente acabar logo com o sexo sem graça daquele dia.
Foi a primeira vez que eu ouvi uma mulher me dizer que finge que não gozou. Isso mesmo, senhoras e senhores, Sarah desenvolveu uma técnica silenciosa de gozar, tentando controlar todas as reações possíveis do seu corpo e de maneira nenhuma, revira os olhinhos.
Só se permite arfar e cravar as unhas nas costas do marido, quando eles estão frente a frente, de olhos abertos, trocando juras eróticas de amor. Daí o gozo dela reforça a performance e o afeto dele. Do contrário, a depender da posição sexual, prática e "clima" emocional, ela só se permite ter um orgasmo contido, torcendo para que Mauro não perceba um entusiasmo que possa lhe dar algum gatilho.
O comportamento de Sarah certamente vai na contramão da autonomia feminina, porque reforça o prazer de Mauro em detrimento do dela. Além disso pode gerar alguma disfunção sexual futura, como um transtorno do orgasmo. Entendo que a situação é delicada, mas não será evitando a cena principal que eles enfrentarão o problema. Sarah do céu, vamos resolver isso aí?
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