Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Foco nelas: o lado bom de não ter homens na série 'Fundamentos do Prazer'
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
A nova minissérie documental "Fundamentos do Prazer" disponível na Netflix é simplesmente obrigatória. O time, desde direção, produção, fotografia - entre outros - é quase todo formado por mulheres. Você não encontrará um homem sequer falando sobre o nosso prazer, o que é uma dádiva.
Disponível em 3 episódios, a minissérie aposta no formato que une depoimentos, informação cientifica e uma produção visual atraente, somada a diversidade de vozes femininas: mulheres cis e trans, não-binárias, hetero e homossexuais, brancas, pretas, asiáticas, de várias idades e religiões. Elas falam sobre seus corpos, trajetórias, desejos e experiências sexuais.
O caminho escolhido pela direção da minissérie é dar sentido e ferramentas para que as mulheres compreendam os desafios do desejo e, como somos educadas para simplesmente aceitar um papel pouco desejante no mundo e valorizar tudo, menos o prazer.
A diversidade de corpos e estilos também marca as profissionais responsáveis por trazer informações preciosas sobre o corpo, a resposta sexual, as relações afetivas e as crenças negativas sobre sexualidade feminina que dificultam as mulheres na obtenção de prazer. São terapeutas sexuais, educadoras sexuais, donas de sex shop, pesquisadoras.
O primeiro episódio investiga o prazer a partir da dimensão biológica, focando nos órgãos genitais e dos sentidos e lança uma questão que vai nortear todo o conteúdo: "porque ninguém me preparou para isso'?
Sendo recente o desenvolvimento da sexologia como ciência investigativa e de sua aplicação clínica e educativa, os depoimentos revelam como as mulheres iniciam sua vida sexual com pouca ou nenhuma orientação familiar e/ou escolar.
Dúvidas sobre os próprios genitais - quantas e quantas mulheres ainda chamam vagina de vulva e vice-versa? - sua função, aspecto e potencialidade de prazer são aos poucos esclarecidas ao longo do episódio, que se encaminha para a experiência do orgasmo - e, portanto, da masturbação - como uma importante manifestação de prazer e alegria. Sex toys são apresentados de maneira leve e funcional.
A conexão mente-corpo é tratada no segundo episódio, esclarecendo a importância do cérebro e como o desejo e o prazer operam em um sistema complexo, mas flexível, favorecendo adaptações. Esclarece que muitas vezes uma manifestação de excitação genital, como a lubrificação, por exemplo, não necessariamente corresponde ao "sentir-se excitada" e que entender isso é fundamental para que o sexo seja satisfatório, já que as mulheres, frequentemente, não dizem aos parceiros que precisam de mais tempo para entrar mentalmente no jogo erótico ou que, simplesmente não querem sexo, apesar da excitação física.
Pensamentos intrusivos podem atrapalhar a nossa capacidade de percepção sensorial, relaxamento e atenção plena, para desfrutar do prazer sexual. O episódio também desvela e desconstrói uma série de crenças sobre o funcionamento feminino a partir das oscilações hormonais, que servem, entre outras coisas, para descredibilizar mulheres nos relacionamentos afetivos, sejam os amorosos, sejam os laborais.
Entre outras palavras, potencializar o efeito dos hormônios no humor feminino, tornando as mulheres 'desequilibradas' ou 'sensíveis demais' durante a TPM, é uma maneira de dificultar o acesso para cargos de liderança e deslegitimar suas ideias e emoções, favorecendo a hegemonia patriarcal.
Considerações sobre a pílula anticoncepcional e seus efeitos sobre a capacidade sensorial - portanto sobre o desejo e o prazer - também são abordados, bem como a importante distinção entre desejo espontâneo e desejo responsivo.
O último episódio aborda as relações afetivo-sexuais, sem dar tanta ênfase a química sexual ou a paixão e o amor.
Noções sobre consentimento a traumas sexuais, sem relatos excessivamente dramáticos, promovem uma identificação instantânea da condição feminina no mundo, ainda tão passível de abuso e violência.
Quando eu me percebi, estava com os olhos cheios d'água, ao assistir as mulheres depoentes, se despedirem cada qual com seu jeitinho peculiar. Não tem drama não, foi pura empatia e gratidão.
Sexoterapia #75: Sexy sem ser vulgar? Deborah Secco fala sobre sensualidade
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.