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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Hora marcada pra transar, sim! Por que desapegar do tal 'sexo espontâneo'

jhorrocks/Getty Images/iStockphoto
Imagem: jhorrocks/Getty Images/iStockphoto

Colunista de Universa

14/05/2022 04h00

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Como terapeuta sexual, uma dificuldade comum em consultório é enfrentar a doce memória do tal "sexo espontâneo". Me explico: faz parte da terapia sexual uma série de "exercícios" ou atividades que a pessoa e o casal têm que fazer em casa, durante o processo.

Com frequência escuto a reclamação sobre programar o sexo, ter "hora marcada" para transar e tal. Enfim, há uma forte percepção que o sexo bom é o tal "sexo espontâneo", aquele que acontece sem aviso prévio. Hum... Vamos pensar sobre isso.

Qual foi a última vez que você fez sexo, sem que tivesse nenhuma intenção? Pode ter sido uma rapidinha matutina, ou uma noite que você conheceu alguém e inesperadamente rolou uma transa, mas de verdade, se você não estiver apaixonada, fase na qual a gente transpira sexo, essas são as exceções.

Se você tem vida sexual ativa e sai com uma expectativa, mesmo que mínima, de conhecer alguém, passa pela sua cabeça que pode rolar sexo no fim da noite. Se vai sair com alguém para um "encontro", pensa de antemão se está tudo ok "abaixo da linha do equador", mesmo que decida não transar.

Bom, pode ser que você tenha um "ficante", um crush ou um "PA"...então, quando bate a vontade de sexo, marca um encontro para...fazer sexo! Se o(a) namorado(a) vai viajar, programam uma sessão "despedida"; se ele(a) voltou se prepara para a sessão "reencontro". Qual a diferença de tudo isso para "gato(a), vamos fazer o exercício no sábado à noite?".

Pode ser que no sábado à noite aconteça alguma indisposição, ou apareça outro programa. Mas o fato de pensar que no sábado vai rolar uma sacanagenzinha, é também uma maneira de trazer o sexo para o cotidiano e ir colocando fermento na massa do bolo, principalmente para aqueles que se encontram acometidos por alguma dificuldade sexual.

Acho que há uma certa confusão entre os conceitos. A palavra "espontâneo" significa natural, verdadeiro. Seria no mínimo injusto dizer que o sexo "programado" não é natural, menos ainda verdadeiro. Porque as pessoas não dizem, "bom, agora que chegou a hora, tira a roupa aí" (ou não deveriam). O momento marcado é um encontro de corpos e de almas, que vão se achegando, para se descobrirem, se aninharem, se divertirem.

Seria menos verdadeira essa intencionalidade do momento de transar, do que aquela outra, na qual você pensa: bom, essa semana está sendo muito difícil, tenho trabalhado muito...espero que no domingo, quando não temos nada para fazer, eu e minha parceira(o) possamos namorar. A diferença está na maneira como o corpo se manifesta, antes ou depois.

A gente pensa em sexo, bastante até. Ou porque foi bom, ou porque faz falta, mas invariavelmente estamos também "programando" os melhores momentos para relaxar e aproveitar: os filhos na casa da avó, a viagem de férias, a festa que promete.

Talvez o que mais nos aborreça, não é "marcar" o dia para transar, mas sim a maneira como o encontro sexual se dá. A mesmice e a falta de "surpresa", aquela que te pega desprevenida e, portanto, completamente vulnerável, é que nos deixam com esse amargo na boca.

Mais do que isso: aquele tesão natural, que toma a sua cabeça e o seu corpo e te faz uma máquina de sexo, é sempre melancolicamente relembrado, em fases menos intensas dos nossos relacionamentos.

A gente se aborrece identificando a saudade do que já foi. E foi, mas isso não significa que, mesmo que você e sua parceria não estejam mais "no cio" que o tal sexo "do dia de folga" não possa ser surpreendentemente bom! Marca na agenda e "se joga" no compromisso!