Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Entediado com casamento, ele teve caso com mulher, depois homem. Adiantou?
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O Antonio tem 50 anos, é casado há 15 e está vivendo aqueles dilemas existenciais comuns a quem já passou da metade da existência. Ele tem um casamento sem sexo há mais de 1 ano, pensa em se separar, mas tem medo de ficar só. Nunca ficou. Na verdade, durante os últimos 15 anos, não só esteve com a esposa, mas também teve dois casos extraconjugais, que lhe distraíram bem, enquanto o erotismo no casamento ia se apagando.
A primeira relação extraconjugal aconteceu por longos 5 anos, com uma mulher também casada e um pouco mais velha que ele. "Uma relação muito conflituosa, cheia de ciúmes de ambas as partes. Às vezes, cheia de agressões e provocações. Isso nos excitava bastante. Éramos colegas de trabalho e nos víamos o dia todo."
Quando o caso acabou, de maneira turbulenta, ele resolveu buscar um parceiro homem para se divertir. Me conta que sempre teve o desejo de experimentar, fantasiava e se excitava com a possibilidade, mas que a vontade desapareceu enquanto esteve com a amante. O fim do relacionamento fez ressurgir a fantasia novamente.
É até bem comum que isso aconteça. As fantasias sexuais são como aditivos para a excitação. Quando estamos apaixonados(as), ou envolvidos excitantemente com alguém com aquela química explosiva, só o encontro das parcerias é suficiente para gerar a engrenagem sexual.
Quando o interesse sexual inicial diminui, é bem comum que as fantasias apareçam para ajudar no engajamento da excitação. Isso não significa, necessariamente, que o sexo entre o casal esteja fadado ao fracasso. Na verdade, é justamente a capacidade de fazer o desejo próprio e do outro "caber" na relação sexual, o que a torna interessante.
Mas o caso de Antonio era mais complicado, já que o desejo se refletia para um parceiro do mesmo sexo e, em sendo a sua parceira uma mulher, ficava mesmo mais difícil fomentar o sexo com a esposa, relação que já estava morna, lembram?
Foi então que ele partiu para saciar sua curiosidade e se envolveu com um homem bem mais jovem. No começo a relação foi sexualmente intensa, mas envolta de desconfianças e insegurança, já que Antonio duvidava um pouco do interesse genuíno do rapaz por ele. Curioso. Estar com alguém mais jovem lhe espelhava o vigor que ainda era capaz de ter, por outro lado, nutria um certo sentimento de inadequação.
Pois bem, passados mais de 6 meses, saltou aos olhos de Antonio a incompatibilidade da parceria, já que, segundo ele, o rapaz é inculto e imaturo e o tesão foi embora. Ele descobriu que o sexo com homem é bom, mas não é, de longe, nada tão fantástico quanto fantasiava. Já vi essa ficha cair centenas de vezes. Algumas coisas ficam melhor mesmo no campo da fantasia.
O problema é que o jovem não está aceitando bem o afastamento de Antonio, e vem o procurando insistentemente. Quando o assunto é relação afetivo-sexual, meus caros, não há controle.
Parte das pessoas que se lançam na relação extraconjugal, acabam envolvidas, confusas, a adrenalina de viver o escondido, o perigoso misturada com o sofrimento e a culpa, sem contar com o descontrole (e as vezes a irresponsabilidade) diante das emoções das outras pessoas. E isso ocupa uma boa parte do nosso espaço mental. Quando há ciúme, brigas e agressões, a situação só tende a ficar mais intensa.
Digo a Antonio que ele gosta mesmo é de confusão. Aliás, pergunto como vai a sua vida, se ele se diverte, tem amigos, projetos, se está realizado no trabalho, o quanto gosta de si mesmo. Parece que as relações conflituosas lhe preenchem de alguma maneira, é onde ele se sente hiper desejado e vivo.
Suspeito que não lide bem com o sentimento de rejeição, que ele foi alimentando no casamento. Grande dificuldade dos casais em conversar sobre o incômodo de imaginarem-se desinteressantes para o par.
Um casamento de 15 anos não é pouca coisa, mas há que se avaliar o patrimônio afetivo acumulado durante o tempo. Antonio me diz que está em uma fase fortemente marcada por um certo desinteresse por sexo e todas essas turbulências, que quer paz. Serviria então, ao menos por enquanto, o casamento sem sexo, não é verdade? - provoco.
Mas ele não quer. Mantém o dilema acompanhado ou sozinho - muito embora não me dê pistas da terceira via (tá difícil né gente?) - uma possibilidade de repactuar o casamento e rever o erotismo do casal. Talvez ele esteja tão assustado com a ideia de ficar só, que não consegue se mover, melhor deixar como está.
Nunca é fácil olhar para as nossas faltas, ninguém transborda o tempo todo na existência. Mas a grande arte da vida é saber olhar para elas sem tanta angústia. "Na verdade, as paixões cozinham e recozinham na solidão" já dizia Gaston Bachelard. Sem distrações, talvez Antonio tenha tempo de cozinhar um encontro consigo mesmo.
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