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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ansiosossexuais: como a ansiedade afeta o comportamento sexual

Moyo Studio/Getty Images
Imagem: Moyo Studio/Getty Images

Colunista de Universa

02/08/2022 04h00

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Primeiro eu quero já deixar claro que, em uma sociedade 'doente' como a nossa, ser tão resiliente a ponto de nunca ter experimentado algum nível de ansiedade é quase impossível. Quando se fala em "transtornos mentais", as pessoas fazem julgamentos preconceituosos sobre "ser maluco" ou outros que se referem à onipotência humana: "não preciso, vou dar conta sozinho". Segundo a OMS mais de 450 milhões de pessoas são afetadas diretamente por transtornos mentais nos países em desenvolvimento. E a pandemia agravou tudo: a depressão cresceu 40% no Brasil nos últimos anos.

Uma certa ansiedade é esperada para novos encontros: haverá desejo? A performance agradará? O sexo vai ser bom? Mas quando isso toma a pessoa por completo, os efeitos podem transformar o sexo em uma situação nada divertida, prazerosa e de bem-estar. Existe até um novo termo para isso: ansiossexuais - pessoas para quem o sexo passa a ter um sentido inverso de sua, digamos 'natureza', sendo fonte de sofrimento.

A pesquisa realizada pelo Ideia O que pensa o homem brasileiro encomendada pela revista GQ Brasil revelou, por exemplo, que 89,4% dos homens jovens relatam estresse - e nós sabemos como ele é combustível para transtornos de ansiedade. E ela atrapalha muito no que diz respeito ao funcionamento da resposta sexual.

A ansiedade patológica pode ser definida por uma incapacidade de o indivíduo viver plenamente o momento presente, colocando sua atenção, disposição e ocupação apenas no futuro. Dessa forma, acaba prejudicando sua capacidade de desfrutar ou desempenhar satisfatoriamente o ato sexual, que exige maior desprendimento com as preocupações e maior comprometimento com o "aqui-e-agora". Mulheres que apresentam transtorno do orgasmo podem justamente estarem sofrendo com uma mente que vai para todos os lugares de maneira acelerada e impede que foquem nas sensações.

O próprio pensamento: será que vou ter um orgasmo hoje? - se presente de maneira muito intensa, pode gerar um círculo vicioso, na qual a ansiedade gera disfunção, que piora por sua vez a ansiedade de performance na próxima relação. Assim também ocorre com os homens: a prevalência de transtornos ansiosos em homens com disfunção erétil está entre 2,5 a 37% (com idades entre 45-54 anos principalmente).

As emoções negativas, ansiedade ou medo de não atingir as expectativas da parceria produzem uma hiperatividade do sistema nervoso simpático, que está associada à redução do controle ejaculatório, gerando ejaculação rápida e reduzir a ereção, que é mediada pelo sistema nervoso parassimpático.

A etiologia da maioria dos transtornos mentais é multifatorial. Dá-se um desbalanço entre a capacidade inata e hereditária de adaptação às diversidades da vida, aliado a fatores ambientais, que provocam sintomas de variadas formas.

Em grande parte dos transtornos mentais, essas causas biológicas (genéticas, efeitos do uso de drogas, e outras) e ambientais (traumas, dificuldades, sofrimentos, angústias) produzem um desequilíbrio na ação de neurotransmissores cerebrais - os responsáveis pela comunicação entre os neurônios.

A dopamina, serotonina e noradrenalina são exemplos, e estão envolvidas em algumas funções associadas à sexualidade e tanto a dopamina como a serotonina podem potencializar ou minimizar o desejo sexual, dependendo da situação, quantidades e vias envolvidas. A serotonina é um neurotransmissor que está associado à regulação do humor, da ansiedade, controle de prazer, dentre outros. Já a noradrenalina está relacionada ao ânimo, disposição, vontade e controle da dor a nível central, por exemplo. Um desbalanço nessas substâncias

É extremamente importante falar sobre o tema, para que as pessoas entendam o que acontece com a sua resposta sexual e afetiva, a fim de buscar tratamento adequado, perguntar sobre os efeitos da doença e da medicação na resposta sexual.

Terapias integrativas - acupuntura, Reike, Mindfulness, yoga, são grandes aliadas a medicação e psicoterapia.
Pela minha experiência, conversar sobre a ansiedade com as parcerias sexuais é fundamental e libertador: normalmente as pessoas acolhem bem e ajudam, falando sobre as suas expectativas, que sempre são bem menores do que a cabeça do ansioso imaginou.

Sexoterapia #78 Como depressão, ansiedade e bipolaridade afetam relacionamentos