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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mais sex toys, diálogo e prazer: o que temos para comemorar no Dia do Sexo

Prostock-Studio/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Prostock-Studio/Getty Images/iStockphoto

Colunista de Universa

06/09/2022 04h00

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Hoje é o dia do sexo, mas o que de fato podemos comemorar, sabendo que há ainda números expressivos de disfunções sexuais, provocados pela desinformação, desigualdade de gênero, pobreza de erotismo?

O Happn, app de relacionamentos, fez uma pesquisa com 1500 usuários sobre comportamento sexual e constatou que 92% dos solteiros se dizem abertos para falar sobre o tema, sendo que 57% deles afirmam que o fazem sem nenhuma vergonha. É um número importante, já que boa parte da insatisfação sexual deriva da dificuldade de comunicação entre as pessoas e o pudor que envolve o tema.

Há ainda um mito de que o bom sexo só depende da química sexual entre os envolvidos e que o restante se encaixa naturalmente. Homens ainda manifestam uma tendência em 'resolver' suas dificuldades sozinhos - sejam elas o controle ejaculatório ou a dificuldade com a ereção - e mulheres ainda ficam confusas sobre a sua resposta sexual, minimizando o seu desprazer na relação, por falta de conhecimento e assertividade e medo de 'ferir o ego da parceria'.

Muitas não sabem dizer sobre orgasmo na relação sexual, acomodam uma "dor" durante o sexo e acham que a sua falta de desejo pela parceria é um problema exclusivamente seu, não da carência de erotismo, da baixa qualidade do sexo, ou da falta de interesse da parceria.

Então, quando os números apontam para uma disposição das pessoas solteiras falarem sobre o assunto, talvez seja esse um bom motivo para comemorarmos o dia de hoje.

O outro diz respeito, a meu ver, principalmente sobre o prazer sexual feminino. 69,6% dos brasileiros solteiros que responderam à pesquisa disseram que têm um brinquedo sexual ou que terão em um futuro próximo. Quanto mais velhos, menor a disposição: acima dos 45 anos, só 37,5% afirmam o desejo de ter ou possuir um sex toy, sendo esse posicionamento, muito provavelmente, movido pela antiga crença de que, se há necessidade de uso, alguém não está performando a contento, mais especificamente os homens.

Embora atualmente haja uma variedade de brinquedos sexuais voltados a pessoas com pênis, como os anéis penianos com vibração, ou masturbadores que envolvem o órgão e reproduzem o movimento de vai e vem e levando em consideração que os vibradores fálicos e os plugs anais também são usados por essas pessoas, é só entrar em qualquer sex shop, para constatar a demanda feminina.

São dezenas de dispositivos projetados para facilitar o orgasmo e favorecer o prazer sexual de quem tem clitóris e vagina. E, constatar que só a penetração e a maneira de como ela é inserida no contexto sexual não é suficiente, principalmente entre casais heterossexuais, é um avanço e tanto.

Infelizmente já presenciei centenas de pessoas com o ego ferido, por acreditarem piamente que são os únicos responsáveis pelo prazer da mulher, ignorando a anatomia feminina e a fisiologia da resposta sexual.

Há também grande resistência em encarar o fato de que nem sempre o sexo oral ou a estimulação clitoriana realizada por uma parceria pode ser interessante ou habilidosa o suficiente para a excitação ser intensa a ponto de disparar um orgasmo.

Aceitar que mulheres podem também ter prazer sexual 'solo', que se uma mulher tem um vibrador, é sinal que pode se masturbar e gozar sozinha ainda assusta muita gente.

Diante de tantas crenças distorcidas sobre o sexo, quando a galera mais jovem entende que sex toys podem tornar a vida sexual mais interessante, fico aliviada e com esperança na humanidade.

Embora tenhamos motivos para comemorar esse dia do sexo, temos um caminho importante a percorrer, principalmente para abrir o canal de comunicação com as gerações anteriores.

Sexoterapia #79 Química sexual: tesão tem prazo de validade? Assista:

Tradutor: facilitar o orgasmo e favorecer o prazer sexual

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL