Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Gap do orgasmo: mulheres gozam 35% menos que os homens. Como mudar isso?
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A marca brasileira de produtos para o bem-estar sexual Pantynova realizou uma espécie de "Censo do Sexo", com 1813 brasileiros de todos os gêneros, orientações sexuais e residentes de todas as regiões do Brasil. A maior parte da amostra foi principalmente de pessoas nascidas a partir dos anos 80 (Millennium) e do ano 2000 (Geração Z) moradores do Sul e Sudeste do país.
Dentre os vários dados obtidos na pesquisa, o que chama a atenção é uma realidade preocupante: o gap do orgasmo - uma diferença no número de pessoas que afirmam ter orgasmo em todas as suas práticas sexuais (desde que, é claro, tenham excitação suficiente). Os números mostram que, mesmo com os avanços que temos percebido no que se refere a autonomia feminina, a obtenção de orgasmo é ainda 35% menor do que em comparação ao público masculino.
E o gap acontece tanto na masturbação, quanto na relação com parcerias. Sozinhas, só 66% das mulheres afirmaram gozar sempre, 20% menos do que os homens que afirmaram ter orgasmo na prática da autoestimulação.
Embora os dados apontem para uma mudança de mentalidade sobre a masturbação - 92% dos respondentes acham que ela faz bem para a saúde e que é uma maneira de autocuidado - vale lembrar que entre razão e emoção pode haver um gap considerável.
Uma mulher pode dizer que acha positiva a masturbação, mas não conseguir relaxar o suficiente para aproveitar a prática. Os efeitos danosos de séculos de repressão sexual feminina são capazes de interferir na percepção do auto prazer. Sensação de culpa e vergonha são com frequência verbalizadas pelas mulheres quando se propõem à masturbação e eu vou além: nem precisa ser no sexo, a questão é tão profunda que tem relação com a mulher tirar um tempo para si mesma.
É assim com quase todos os prazeres femininos que não estejam enquadrados em ações legitimadas socialmente para a sexualidade da mulher, como passar tempo com os filhos, o marido, ir ao shopping ou ao cabeleireiro - enfim - é a herança maligna de estar no mundo para servir o outro.
Aliás, muitas mulheres quando são instigadas a pensar no prazer individual, acham a masturbação 'sem graça' ou 'sem função', atrelando a sua resposta sexual a outra pessoa. O paradoxo desse pensamento é que é justamente na relação sexual que o orgasmo desaparece: nesse estudo, só 19% das mulheres afirmaram chegar sempre ao orgasmo todas as vezes que fazem sexo com alguém - uma queda de 47% em relação à prática da masturbação. No recorte feito por orientação sexual, mulheres homossexuais levam vantagem, pois 28% afirmaram sempre gozar na relação com outra pessoa.
Para nós, estudiosos da sexualidade a resposta é óbvia: se você não conhece seu corpo e é incapaz de identificar os disparadores de orgasmo, fica muito mais difícil comunicar isso a parcerias.
E é claro que, quanto menor a intimidade com alguém, mais difícil fica. Veja que os dados do Censo mostram que os homens também gozam 32% menos quando estão com outras pessoas do que sozinhos, revelando uma dificuldade na interação.
Necessidade de concretizar todas as possibilidades de interações casuais mesmo que falte conexão e química sexual, falta de tempo e local adequado para o sexo, uso abusivo de álcool e drogas psicoativas, podem estar dentre as motivações para que o orgasmo aconteça, assim como a ansiedade de performance.
O Censo do Orgasmo incluiu uma interessante questão sobre isso: 53% das pessoas da amostra afirmaram que se sentem ansiosas para fazer a parceria gozar; 39% para manter a excitação o tempo todo e 36% para gozar mais rápido.
O GAP do orgasmo ainda é grande e por isso precisamos ampliar informações, discussões, fazer pesquisas, promover debates, falar sobre prazer sexual nas escolas. Para se ter uma ideia, num ranking de 7 posições de pessoas que sempre gozam (número de vezes sozinhas ou acompanhadas), os 4 primeiros lugares são ocupados por pessoas que se identificam como homens.
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