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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Você goza como eu gozo?': o que é o espelhamento erógeno entre casais

PeopleImages/Getty Images
Imagem: PeopleImages/Getty Images

Colunista de Universa

27/09/2022 04h00

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Zonas erógenas são partes do corpo sexualmente excitantes. Tenho insistido com frequência que o corpo é um grande parque de diversões e que reduzi-lo aos genitais, durante a relação sexual, é perder uma parte importante da experiência de prazer. E essa tendência genitalizada também é observada durante a masturbação.

As pesquisas sobre o assunto revelam que é durante a relação sexual que ampliamos e tocamos outras partes dos corpos, o que sugere que muito do que aprendemos sobre nossas zonas erógenas está na interação com as outras pessoas.

As zonas erógenas não são somente as que se referem à excitação sexual direta, mas também a uma experiência sensual. Ou seja, visualizar a reação de alguém a um beijo no pescoço, um sussurro na orelha, ou um carinho nas costas, é um importante fomento do jogo erótico e amplia nosso próprio mapa erógeno.

Uma pesquisa realizada com universitários londrinos investigou se existe um espelhamento erógeno entre casais, ou seja, se as pessoas teriam uma tendência a olhar e tocar zonas do corpo dos parceiros que são comumente olhadas e tocadas por eles em seus corpos, como em um espelho.

Os investigadores descobriram que sim, mas que é um fenômeno que depende do tipo de relacionamento. Casais comprometidos em relacionamentos românticos de longo prazo tendem a espelhar o seu mapa erógeno na parceria, o que não acontece majoritariamente em relações fortuitas.

Além disso, houve uma correlação entre espelhamento de mapa erógeno e satisfação sexual. Isso pode sugerir que o aprendizado através do espelhamento favorece também que se ensine a parceria onde se deseja ser olhada ou tocada, e que essa expressão não-verbal vai favorecendo o prazer de ambos. Ao demonstrar interesse em produzir prazer ao outro e tocar-lhe partes do corpo, revela-se também a própria busca de prazer sexual.

O espelhamento não acontece em relações casuais, muito provavelmente porque elas carecem de intimidade, e há uma tendência de as pessoas reproduzirem modelos de estímulo erógeno perpetuados culturalmente. O gênero modula fortemente a atitude de exploração dos corpos, reproduzindo condutas pré-estabelecidas.

Infelizmente, os corpos masculinos se apresentam culturalmente mais empobrecidos no que diz respeito às zonas erógenas do que os corpos femininos.

O forte investimento na sensualidade do corpo feminino como aquele que é sexualmente desejável, e também no que se entende por necessidade sexual da mulher - no que se refere ao investimento de estímulos anteriores a penetração - ajudou a reduzir o corpo erógeno masculino à sua genitália.

Homens heterossexuais consideram as áreas sexuais do corpo das parcerias mais excitantes do que as mesmas partes em seu próprio corpo. Em contrapartida, as mulheres consideram as suas próprias áreas sexualmente mais excitantes e atraentes do que as mesmas áreas nos corpos dos homens.

Então, a lógica é assim: se valoriza-se em demasia áreas erógenas genitalizadas (vulva, vagina, pênis, mamas, bumbum), homens tenderão a só estimular essas partes, já que também não conhecem outras em seus próprios corpos. Mulheres tenderão a valorizar o pênis e ignorar o restante do corpo masculino.

Segundo os resultados desse estudo, parece que a intimidade entre duas pessoas abre a possibilidade exploratória e amplia o mapa erógeno pessoal e da parceria. Não é à toa que pessoas casadas que se sentem felizes nos seus relacionamentos tendem a ter mais satisfação sexual do que pessoas solteiras. Talvez por isso, os jovens solteiros na atualidade têm buscado relações com 'ficantes', alguém com quem não se precise ter compromisso, mas com quem seja possível desenvolver algum grau de intimidade emocional e sexual.