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Reflexão a ex de Ronaldo que reconstruiu hímen: virgindade não é castidade
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Michele Umezu, mãe de um dos filhos de Ronaldo Fenômeno, declarou recentemente que recorreu à himenoplastia (reconstituição do hímen) a fim de manter-se virgem até o matrimônio. "Relação sexual só quando me casar na igreja. Ainda não encontrei a pessoa, estou aguardando. Estou procurando um homem com os mesmos propósitos e a mesma fé que eu. Não tenho vergonha de falar isso, porque é o que eu realmente quero", disse a fisiculturista.
Não creio que seja uma imposição da sua igreja (espero), que a sua abstinência sexual precise ser também provada através da não ruptura da sua membrana himenal. Até porque, já faz tempo que algumas religiões cristãs superaram a dimensão estritamente biológica do que se entende por "virgindade". Verdade seja dita, diz-se que uma pessoa "é virgem" quando ela não teve relação sexual, o que envolve outras práticas que não só a penetração.
Quantas mulheres a fim de exercer o direito ao exercício da sua sexualidade, fizeram de "um tudo", inclusive sexo anal, mantendo o hímen, ali, intacto para dar conta da normativa?
Devemos lembrar também que, fisiologicamente, os homens sempre levaram vantagem, por não terem como "provar" a sua tal virgindade, já que "quebrar o cabaço" é uma expressão completamente subjetiva, usada para descrever a primeira penetração de um homem, embora nada se quebre, nem se rompa.
A não consumação sexual já foi inclusive motivo para anulação de casamentos, o que não existe mais em termos legais. A concepção que vigorou por muito tempo era bem machista, já que se um homem não tivesse ereção ele também estaria sendo julgado por sua 'incapacidade' - machos que são machos são imbrocháveis, não é mesmo?
Ao descolarmos a virgindade de sua dimensão puramente biológica, faz mais sentido que ela seja entendida como sinônimo de abstinência sexual (de qualquer prática). Para contextos religiosos nos quais a vivência da sexualidade genital só deve acontecer dentro do matrimônio, ser abstêmio é uma questão de fidelidade à doutrina e de obediência à norma.
Há quem encare tal desafio até mesmo como uma prova de "amor" e, por isso, aceita submeter-se a tal exigência. O que se nega, na realidade, é a existência de outros contextos amorosos possíveis, de outras identidades que, mesmo exercendo a sua sexualidade fora do contexto matrimonial e da identidade heterocisnormativa, ainda assim vivem a castidade - um valor importante para a religião cristã.
Afinal de contas, virgindade ou abstinência sexual não é sinônimo de castidade, que é a integração da sexualidade na personalidade e no projeto de vida pessoal de cada um de nós.
Uma pessoa pode não ter relações sexuais, manter seu hímen intacto (seja ele natural ou reconstituído) e ser alguém completamente desequilibrado afetivamente, alguém que não aceita a própria identidade, alguém que não se abre à relação com o outro ou que apenas busca a si mesmo em toda e qualquer relação.
Sair por aí seduzindo todo mundo para alimentar o próprio ego, é um bom exemplo de como uma mulher virgem pode não ser casta, pois ela precisa desse mecanismo narcísico para se impor diante do outro.
Reconstituir o hímen não deixa de ser uma concepção reducionista tanto da sexualidade quanto da virgindade. Hímens podem até ser reconstituídos, mas não há intervenção externa que seja capaz de proporcionar o que é mais importante: a integração da própria sexualidade.
Mais ainda, preocupar-se demais com o "tipo de hímen" a "ser entregue ao parceiro" reforça uma concepção machista da relação homem-mulher - com a consequente subjugação e objetificação feminina -, que há tempo devia ter sido superada em nome de maior equidade entre os sexos.
Acreditar que algo meramente físico constitui a melhor "oferta" a ser feita ao outro é optar por viver de migalhas numa relação; não há hímen capaz de segurar alguém ou dar sentido a uma relação.
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