Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Série 'As Garotas do Fundão' enaltece força da amizade feminina
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A série "As Garotas do Fundão" recém-chegada na Netflix, é uma espécie de comédia dramática, bem ao estilo espanhol, que narra a história de 5 mulheres adultas, que se conheceram na escola, e que decidem viajar para realizar desejos, antes que uma delas inicie a quimioterapia. Todas raspam os cabelos em solidariedade, o que as deixam mais assemelhadas, revelando a humanidade e a vulnerabilidade individual.
A viagem é mediada por um jogo - cada qual escreve de forma anônima um desejo em um papel - sendo que a cada dia, todas devem realizar o desejo que foi revelado no papelzinho "do dia". Uma espécie de dinâmica adolescente, quando se precisa do apoio do grupo para afirmar escolhas, normalmente transgressoras, e que não se tenha coragem de fazer sozinha, ou que se precise expurgar uma espécie de culpa moral - afinal, não sou só eu que faço isso ou aquilo.
A personalidade de cada uma vai se revelando ao longo dos episódios, sem grande profundidade, com tipos psicológicos facilmente reconhecidos, que por isso mesmo provocam identificação do público: a solteira convicta que alardeia liberdade e abandona antes de ser abandonada; a que amortece a sua carência atrás da bebida e da língua ferina; a de caráter ilibado, certinha, mas que esconde um desejo "inconfessável"; a garota cheia de transtornos de humor que faz sucesso na internet por sua 'sinceridade' emocional.
Para mim, a mais interessante é justamente a que parece mais tola: a mãe, dona de casa, submissa ao marido machista e manipulador, mas que coleciona uma lista enorme de histórias mal resolvidas, a rainha do ghosting. É a única personagem que não dá para sacar logo de cara, porque revela uma leveza e uma curiosidade com a vida mantidas pelo afastamento de uma realidade emocional mais dura.
Ao não entrar em contato com os embates naturais das relações na vida adulta, ela delega os contornos do próprio desejo para os outros e assim pode justificar também a sua 'triste' condição.
A série aborda o desejo homoerótico feminino, as relações casuais, o medo do compromisso, a infidelidade conjugal, o fim do amor, o medo da separação, os conflitos de quem não se sente dentro do padrão desejável de beleza - mas não explora com profundidade o drama psicológico de cada temática.
A intenção, me pareceu, é focar no sentimento de pertencimento e proteção que a amizade feminina pode oferecer, a fim de acolher sentimentos ambivalentes e menos nobres, sem julgamentos ferozes.
A série despretensiosa e garante boas risadas, mas é preciso fazer a lição de casa sozinha, pois a narrativa não conduz naturalmente as reflexões mais interessantes.
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