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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por pavor de gravidez, ele só gozava fora, mesmo com camisinha e pílula

Viacheslav Peretiatko/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Viacheslav Peretiatko/Getty Images/iStockphoto

Colunista de Universa

18/10/2022 04h00

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Yasmin tem 25 anos e há 2 namora Danilo, 26. No início, como dois jovens adultos responsáveis, usavam preservativo em suas relações sexuais. Mas ela começou a estranhar o fato de que Danilo não tinha orgasmos durante a penetração. Quando estava em sua excitação máxima, tirava o pênis da vagina e ejaculava, às vezes com camisinha, noutras, quando dava tempo de tirá-la, manipulava o membro até gozar, o esperma escorrendo pelas mãos.

Yasmin confessa que, inicialmente achava sexy aquela cena, pois conseguia visualizar com detalhes o contorno do corpo de Danilo, os espasmos, os pelos eriçados, a boca entreaberta, o rosto que ele jogava para trás, logo após ter olhado para o próprio pênis em erupção: "de vez em quando ele enrijece tanto os pés, assim, que parece que vão girar e me vem na cabeça o Curupira, com os pés invertidos e isso me faz rir". Ah, o amor é mesmo uma fofura.

Porém, passado algum tempo, ela começou a criar confusão porque essa 'mania' dele sujava os lençóis, e ela simplesmente detesta deitar seu corpo em tecido molhado. Não que fosse uma enorme poça úmida, mas bastava uma rodelinha para que eles, logo após o sexo, precisassem trocar a roupa de cama.

Danilo então nunca mais tirou o preservativo a fim de evitar a cara feia da Yasmin e o ritual que ocupava o tempo do nheco-nheco pós sexo. Mesmo assim, era o tempo de ir até o banheiro dispensar a camisinha, para encontrar a namorada já de costas, a dormir (ou fingir).

Tinha algo mais nessa história. Um dia Yasmin reuniu coragem para perguntar por que raios o Curupira não ejaculava na penetração, haja vista que usavam preservativo. Danilo disse que, nessa altura da vida não queria ter filhos de jeito nenhum e que precisava contar com os 5% de falha possíveis para esse método. Ainda ia fazer o MBA fora do país, abrir uma startup e guardar 1 milhão antes dos 30 anos. Justíssimo, concordou Yasmin, que também tinha seus projetos profissionais e não tinha intenção nenhuma de ser mãe antes dos 30 - impressionante o que são os 30 anos na cabeça dos jovens.

Mas Yasmin continuou incomodada. Queria sentir o orgasmo de Danilo acontecendo dentro da sua vagina e ela não soube me explicar muito bem o porquê. Talvez para variar um pouco o roteiro sexual, quem sabe para sentir o pênis pulsando dentro de si, o corpo tremendo, a conexão espiritual do momento.

Foi então que ela resolveu tomar pílula anticoncepcional e liberar o preservativo da relação sexual, somente depois de terem, os dois, feito uma batelada de exames para detecção de ISTs e conversarem sobre infidelidade, responsabilidade afetiva e contrato monogâmico. Fiquei impressionada com a madureza da ação.

Passaram, então, a transar in natura. E foi no primeiro sexo que fizeram, que Danilo, embora tenha sentido um prazer enorme - simplesmente não conseguia gozar. Vai ver que o membro não estava acostumado com a lubrificação vaginal - na próxima vai, pensaram. Mas sucederam-se outras tentativas frustradas, até que ele resolveu tirar o pênis e gozar fora da vagina, correndo o risco de sujar o lençol.

Voltaram a discutir sobre o transtorno disso tudo, agora Yasmin elevando a problemática para a salvação do planeta, pelo desperdício de água e energia para lavar tanto lençol assim. O que será das próximas gerações? Que eles tenham filhos depois dos 30 anos, ainda restavam pelo menos 5 anos de lavagem de lençóis, sem contar a secadora de roupas ligada direto no inverno, pois além de não bater sol suficiente na lavanderia, o diminuto varal não dava conta.

Que Danilo gozasse logo dentro da vagina dela para dar sua contribuição, a fim de preservar a espécie. Ele rebateu que, os hormônios que ela ingeria todo dia a fim de evitar a ovulação, eram também desaguados no xixi que escorria esgoto adentro, contaminando o lençol freático dos rios, desequilibrando toda a natureza, o que se voltava contra o próprio ser humano, mudando toda a fisiologia sexual.

Afinal, são bilhões de mulheres urinando estrogênio e progesterona todos os dias, que acabam sendo ingeridos por animais ou poluindo o solo das plantações. Ele garantiu veemente que tinha provas cientificas em seu favor. Lençol por lençol, a degradação dela era também catastrófica. Danilo sendo o Curupira, o protetor da floresta.

Foram várias sessões para desvelar a insuficiência que ela sentia, diante do namorado que não gozava dentro dela, essa condição maligna que as mulheres herdaram de se sentirem culpadas por tudo. De fato, ela estava querendo que ele ejaculasse dentro da vagina não para ter mais prazer físico, mas sim emocional, pois na fantasia dela, vai ver que não era tão sexy e desejada por ele, o que diminuía a sua autoestima pessoal.

Mas Danilo tinha mesmo era pavor de engravidar qualquer mulher e não confiava em método nenhum - sua vida sexual sempre foi assim e já estava condicionado - agora a pressão só tinha aumentado. E o que seria deles, caso resolvessem engravidar mais adiante?

Ao final do processo, aboliram a pílula, assumiram o preservativo e eu pedi para voltarem depois dos 30.