Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Chega de transformar a sexualidade em arma ideológica
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Um artigo que acaba de ser publicado na Revista Brasileira de Sexualidade Humana investigou como a posição política pode afetar a atitude das pessoas perante a educação sexual. Foram analisados 209 questionários com perguntas sobre dados sociodemográficos, atitudes diante da educação sexual e temáticas sobre educação em sexualidade. Os resultados são uma confirmação importante sobre o que já sabemos. Em geral, as pessoas são favoráveis à educação sexual.
Outro dia fiz um bate-papo para alunos do ensino médio de uma escola católica e atestei que eles estão muito mais preparados para conversar do que os adultos imaginam. Fizeram todo tipo de pergunta e me agradeceram pelas respostas claras e diretas e pelas reflexões sobre cuidados físicos e emocionais. Somente um pai questionou o trabalho, mesmo sabendo que seria algo sério e responsável.
Mesmo em contextos mais tradicionais, quando uma escola resolve abordar o tema para além da perspectiva exclusivamente biológica, as famílias tendem a agradecer, pois conhecem a realidade em que vivem os adolescentes e jovens. Sabem que devem ir além do discurso "seja responsável", "não faça" ou "use preservativo", porém têm muita dificuldade de fazer isso.
Atitudes como esta correspondem também a um dado interessante dessa pesquisa: as pessoas do gênero feminino são mais favoráveis à educação sexual se comparadas às do gênero masculino.
Outros estudos brasileiros corroboram tal dado apontando que quem faz educação sexual familiar são as mães e não os pais. Os homens ainda têm muita dificuldade de manter uma comunicação que trate de assuntos que implicam intimidade. Por aprendizado cultural, replicam informações básicas, incentivam a iniciação sexual dos garotos e reforçam ideias machistas e desiguais sobre como homens e mulheres devem se comportar sexualmente.
Os dados da pesquisa demonstraram que, quanto mais as pessoas têm uma identidade política à direita, mais negativa é a atitude diante da educação sexual, algo que ficou notório nos últimos 4 anos. A insistência exclusiva sobre a abstinência sexual como carro-chefe para a campanha de prevenção de gravidez na adolescência revela a alienação e a negação do significado de uma das dimensões mais importantes da existência humana e, por isso, conscientemente omitem-se diante de temas que envolvem uma educação sexual emancipatória e democrática, livre e responsável, como prazer sexual, equidade de gênero, diversidade sexual, saúde sexual, erotismo, direitos sexuais e autonomia feminina.
Além de se ignorarem a importância de tais temas, servem-se deles para infundir na sociedade uma espécie de pânico moral, gerando aversão a tudo aquilo que não corresponde à sua agenda ideológica.
Um levantamento feito pelo Datafolha no primeiro semestre de 2022, a pedido da plataforma digital Omens, revelou que os respondentes de esquerda são mais abertos e versáteis no que se refere a práticas sexuais, e que são justamente as pessoas que se declaram de direita (66% contra 50%) que mais enfrentam problemas sexuais, tais como ejaculação precoce e dificuldade de chegar ao orgasmo. Ou seja, parece que quanto mais apegados a preceitos machistas e tradicionais, mais a resposta sexual fica comprometida.
Para nós que trabalhamos com educação sexual, vislumbrar um futuro mais aberto nos próximos 4 anos é uma satisfação enorme. Chega de ideias infundadas para assustar a população! Chega de demonizar a sexualidade! Chega de transformar a sexualidade em arma ideológica e política para subjugar as pessoas! Chega de impor à sociedade a própria ignorância sobre o tema! Chega de negar a contribuição das ciências! Chega de querer impor às pessoas fardos que elas não precisam mais carregar!
A sexualidade é o nosso modo de ser e amar e a educação sexual é um dos mais eficazes instrumentos para que sejamos plenamente humanos e amemos com o melhor de nós mesmos!
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