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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com foco na carreira e sem libido, millennials casados não estão transando

Geração que hoje tem entre 27 e 41 anos transa menos quando casados. - praetorianphoto/Getty Images
Geração que hoje tem entre 27 e 41 anos transa menos quando casados. Imagem: praetorianphoto/Getty Images

Colunista de Universa

12/11/2022 04h00

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Não é de hoje que pesquisas ao redor do mundo têm demonstrado diminuição na atividade sexual em geral, mais especificamente na população jovem. Em concordância, estavam os estudos que apontavam maior frequência sexual em pessoas casadas. Embora saibamos que o desejo sexual tende a diminuir com o tempo do relacionamento, o fato de alguém coabitar com uma parceria afetiva e sexualmente ativa, ainda fazia o sexo acontecer, pois o desejo que responde a estímulos funciona quando há qualidade no sexo e o prazer sexual é uma prioridade para ambos. Mas isso está mudando...

Um novo estudo realizado pelo Instituto Kinsey em parceria com a empresa de produtos eróticos Lovehoney em 2021, com pessoas de 18 a 45 anos, nos Estados Unidos, veio revelar que nem o relacionamento estável está conseguindo proteger a geração nascida entre 1981 e 1996 - os millenials: 25,8% dos respondentes casados relataram esse problema, enquanto apenas 10,5% dos casados da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) e 21,2% dos adultos casados da geração X (nascidos entre cerca de 1965 e 1980).

Em se tratando de fazer sexo com outra pessoa, há uma intersecção entre duas gerações, que estão entre as mais afetadas pelas mudanças drásticas e extremamente significativas que aconteceram principalmente nos anos 90 e que moldaram a maneira de nos relacionarmos com os outros e com tudo o que nos cerca. Internet, globalização e crise econômica, são algumas delas.

A ambivalência está justamente aí: em tempos de maior liberdade sexual, claramente alguns grupos de jovens estão menos ativos.

A pesquisadora americana Jean Twenge já afirmou - há alguns anos - que as pessoas no início dos 20 anos têm 2,5 mais chances de serem abstinentes sexuais do que eram os membros da geração X na mesma idade. No Japão, quase a metade dos jovens é virgem. Na Holanda a média de idade para a primeira relação sexual subiu e até o primeiro beijo foi adiado. Na Finlândia, houve queda na frequência das relações sexuais e aumento da masturbação.

Várias hipóteses tem sido levantadas pelos estudiosos, para a compreensão do fenômeno: excesso de pornografia e masturbação, uso de sex toys, consumo de medicações que influenciam na resposta sexual, abuso de álcool e substâncias psicoativas, distração com tecnologia, medo de abuso e violência sexual, heteropessimismo, aumento de transtornos mentais como os depressivos e ansiosos.

O estresse, particularmente sentido em pessoas na casa dos 30 anos, que se deparam com a dura realidade do mundo adulto no contexto econômico atual - afinal entoavam o coro do "1 milhão guardado até essa idade" - certamente é fator inegável.

O cortisol é um vilão natural para o bom funcionamento da resposta sexual. Colocando toda a energia no trabalho, como se essa fosse a única maneira de encontrar o pote de ouro ao final da vida e toda a autoestima no bom desempenho laboral, como se essa fosse a única maneira de ser reconhecido como uma pessoa importante e bem-sucedida, sobra pouca libido para essa geração interagir sexualmente com seus pares.

Embora fazer sexo não seja um pré-requisito exclusivo para garantir qualidade de vida e alguns de seus benefícios físicos possam também ser obtidos através de outras atividades - inclusive masturbação - o problema é privar-se de todas as benesses também físicas e emocionais que uma boa relação sexual nos oferece e que certamente nem o trabalho, nem o dinheiro e nem as horas gastas em redes sociais são capazes de suprir.

É a solidão, a ansiedade, o sentido de competição consigo mesmo e a dificuldade de gerir emoções - e, portanto, relacionamentos - que está minando a capacidade de lidar com os desafios de uma relação sexual a dois. É como se isso fosse mais um problema em uma vida já repleta deles.