Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O home office facilitou a masturbação durante o horário de trabalho
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Trabalhar em casa tem lá suas vantagens. Você pode ficar de pijama se quiser, beliscar algo da sua geladeira, receber entregas e funcionários para serviços e reparos, dar mais pausas do que daria se estivesse com seus colegas e chefes ao redor. Mas, masturbar-se como alívio de tensão e estresse, durante o expediente, poderia ser considerado adequado?
Uma pesquisa realizada pela empresa inglesa chemist4u revelou que 14% dos britânicos admitiram a prática do autoerotismo, pelo menos de duas a três vezes por semana —sendo que homens são três vezes mais propensos (22%) do que mulheres (7%). Em números estimados, são cerca de 7,4 milhões de pessoas, em todo o Reino Unido. Um bocado de gente.
E são os millenials —jovens-adultos entre 25 e 34 anos— o grupo mais adepto. Talvez por estarem em uma fase sexualmente bastante ativa, hormonalmente falando, mas imagino que também por estarem fazendo pouco sexo com outras pessoas (mesmo casados), como apontam os estudos mais recentes sobre essa geração. Aliás, descobriu-se que os casados se masturbam mais do que os solteiros durante o trabalho, com sessões mais longas (38 minutos contra 34 minutos). Com esse tempo todo aí, devem ter incluído os minutos de preguiça pós orgasmo, quem sabe um cafezinho.
Além disso, o estudo correlacionou a frequência da masturbação com a média salarial dos funcionários e descobriu que, quanto maior a renda, mais as pessoas se dão esse benefício. Fico pensando se essa diferença se dá por uma espécie de consciência das vantagens que merecem os que estão em situação mais favorável —como se fosse parte do pacote de benefícios adaptado para o home office— ou se a pressão pelo desempenho e a responsabilidade são maiores e provocam ainda mais estresse.
33% dos respondentes afirmaram que se masturbam para aliviar o estresse, 24% para melhorar o humor e 19% para aumentar a concentração —todos efeitos positivos do pós-orgasmo, derivados das substâncias que são secretadas no organismo, como a dopamina, por exemplo. Sendo assim, as justificativas dos trabalhadores podem ser amparadas pela ciência. Errados não estão.
Para uma empresa cuja cultura avalia o desempenho dos seus funcionários e de suas funcionárias pelas horas trabalhadas, a notícia pode alarmar. Ao calcular a média da frequência da masturbação durante o trabalho, com a duração média da prática, os funcionários britânicos estão gastando uma hora e meia por semana para se divertir —e sendo pagos por isso. E é óbvio que o mesmo está acontecendo pelo mundo afora. No Brasil não será nada diferente.
Por outro lado, é só você se relacionar com qualquer pessoa para saber que estão todos espanando, tendo burnout, pedindo licença médica, pelas alta carga de trabalho a que são submetidos funcionários de todos os segmentos do mercado. Os psicólogos e psiquiatras que o digam. As queixas vêm de todos os pacientes, que repetem sem fim o mantra: "Estou trabalhando muito", "tive uma semana terrível no trabalho", "não tive tempo para mais nada".
São frases que reforçam uma espécie de status no mundo capitalista: "Tenho um emprego, ganho dinheiro, sou bem-sucedido". Mas que também revelam o desespero dos que sonham com um futuro mais sossegado. O problema é que esse "lá na frente" nunca chega, ainda mais em se tratando de países mais pobres, como o nosso.
Dessa feita, as pessoas estão perdendo um tempo precioso trabalhando em demasia, que poderia ser destinado para a prática do autocuidado e do cultivo de relações humanas mais profundas e prazerosas. Que a masturbação seja a única coisa que lhes resta fazer, a fim de se dar algum alívio e bem-estar, acho que seis horas mensais de respiro e gemido durante o trabalho ainda são pouco, muito pouco.
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