Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Nova geração de mulheres já sabe que não é a única responsável pelos filhos
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Estive em Portugal por duas semanas, uma delas fazendo uma imersão em sexologia, conhecendo pesquisadores do país. Com exceção do colega brasileiro que mora em Portugal, o grupo do qual eu fazia parte era todo feminino. Já foi a época em que sexualidade era tema dominado por homens, em sua maioria, médicos. Hoje, arrisco dizer que 80% dos cursos de pós-graduação em sexualidade são compostos por alunas, e muitos deles também são coordenados por mulheres.
Do momento em que ampliamos o olhar da sexualidade para as suas dimensões psicológica e sociocultural, principalmente em se tratando dos estudos de gênero e como as desigualdades afetam o prazer sexual feminino, o campo da sexologia passou majoritariamente a ser uma jornada trilhada por mulheres, de diferentes áreas do conhecimento.
Muitas de nossas colegas mais jovens, que comigo estiveram, faziam a sua primeira viagem para fora do país sozinhas, algumas deixando seus filhos, aos cuidados dos parceiros. E isso tem, sim, um importante significado. Quando meu filho Theo tinha quatro meses, precisei voltar a dar aula em um curso de pós-graduação que eu coordenava em Natal. Passei uma semana tirando leite para que ele não ficasse desabastecido durante os três dias que fiquei fora.
Quando pisei na sala de aula, a primeira pergunta que me fizeram foi com quem ele havia ficado. E a resposta óbvia, no meu caso —com o pai— não foi suficiente para conter a aflição feminina: mas será que ele vai se habituar com a mamadeira? Voltará a mamar no peito depois? Certamente perguntas que jamais são feitas a um homem.
Bancar os próprios desejos sem as amarras deterministas do matrimônio e da maternidade não é tarefa simples. Atualmente, para a nova geração de mulheres, é mais fácil mudar essa lógica de que somos as únicas responsáveis pelos cuidados de maridos e filhos, do que para as que já passaram dos 40 —e são herdeiras diretas da subalternidade feminina.
Mas é importante que se destaque que nunca foi uma questão de desejo, capacidade ou força, mas de silenciamento. A imigração, por exemplo, sempre foi tida como um movimento inicialmente masculino, mas estudos sobre o tema mostram que muitas mulheres já tinham essa iniciativa em busca de melhores oportunidades. Esse reconhecimento histórico, que desvela outras verdades sobre nós, ajuda na conversação entre gerações.
Achei uma graça quando as mães de duas de minhas colegas —mais jovens do que eu—, ao verem fotos da viagem, escreveram mensagens no meu Instagram dizendo o quanto estavam orgulhosas de suas filhas. Eu, como uma professora e uma das mais velhas da turma, talvez só um bocadinho mais jovem do que suas mães, sou bastante capaz de entender tanta admiração. Se antes as mulheres tentavam conter suas filhas, para que não fugissem do script previsto, hoje elas reconhecem o bem que isso faz.
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