Topo

Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Assistentes sexuais ajudam adultos com deficiência a se masturbar e gozar

Artem Peretiatko/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Artem Peretiatko/Getty Images/iStockphoto

Colunista de Universa

06/12/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Imagine que você tenha uma condição física que te impeça de movimentar parte do corpo, ou as suas mãos, impossibilitando a sua masturbação. Então, você talvez precise de alguém para ajudá-la a posicionar um vibrador nos seus genitais. A quem pediria isso, caso você não tenha uma parceria? Para seus familiares, amigos, profissionais que lhe prestam algum tipo de serviço? O quanto esse pedido pode soar invasivo, estranho, íntimo demais?

Como corpos funcionalmente diversos, que não se enquadram no que a sociedade padroniza como "normal" e/ou que tenham problemas que afetem a sua estrutura corporal impondo limitações na realização de ações cotidianas, podem usufruir do prazer sexual?

O conceito "diversidade funcional" tem sido usado como alternativa ao termo deficiência, que sofre o efeito de um processo social e político que o associa a incapacitação.

A diversidade funcional pode ser física ou motora; visual; auditiva, intelectual e psíquica, multissensorial. Ela é abrangente e diz respeito à possibilidade de termos uma variedade de corpos, sem qualificá-los como melhores, ou piores, normais ou anormais - cada qual com suas especificidades e necessidades.

A assistência sexual surge como um serviço de apoio de adultos com diversidade funcional para a vivência de sua sexualidade. Favorece o acesso da pessoa ao próprio corpo - antes, durante ou depois das relações sexuais.

São profissionais formados e com competências especificas para assistência a diferentes tipos de diversidade funcional, favorecendo uma experiência íntima e/ou sexual. Podem ajudar uma pessoa a encontrar uma posição para a masturbação, por exemplo, auxiliá-la no uso de um sex toy, entre outras possibilidades.

É um serviço prestado por alguém, em quem se possa confiar a intimidade, mas que se tenha um distanciamento de outras atividades, como a assistência pessoal/cuidadores, por exemplo.

Há outra modalidade de atividade profissional sexual que é a da(o) substituta(o) sexual, alguém que trabalha em conjunto a um terapeuta sexual para ajudar pessoas que tenham obstáculos físicos ou emocionais para atingirem uma vida sexual satisfatória.

Nesse caso, o profissional substituto interage de maneira íntima e direta com o paciente, dentro de uma proposta de tratamento. Imaginem, por exemplo, um homem solteiro heterossexual que tem disfunção erétil de causa emocional. Diante de uma parceira ele sofre com ansiedade de desempenho e perde a ereção. Ele passa a frequentar as sessões de uma terapia sexual e em determinado momento poderia usufruir de uma substituta sexual que, orientada pelo terapeuta, o ajudaria a enfrentar sua ansiedade durante a relação sexual.

E não se trata de chegar e fazer sexo, mas de discutir e treinar como desenvolver intimidade, tocar os corpos, dar e receber carinho, comunicar-se.

Em Israel, por exemplo, o serviço de terapia de substituição sexual não só é regulamentado, como disponibilizado pelo governo, para soldados que foram gravemente feridos e necessitam de reabilitação sexual. Mas são poucos os países que regulamentam a prestação de serviços que envolvem sexo.

Na Europa, por exemplo, a assistência sexual é uma atividade reconhecida nos Países Baixos, na Alemanha e na Suíça, mas sem uma regulamentação específica.

No Brasil essa discussão tem acontecido nos grupos que lidam diretamente com a diversidade funcional, mas é escassa tanto no ambiente acadêmico, na assistência e na clínica de sexologia.

No final das contas, são os profissionais do sexo que acabam sendo solicitados para favorecer o acesso ao prazer de pessoas com diversidade funcional e, muitas vezes, servindo também como substitutos sexuais no tratamento de pessoas com queixas sexuais.

Já não é sem tempo de lidarmos com os serviços sexuais, de maneira mais madura, a fim de delimitar melhor as atividades possíveis nesse campo, protegendo profissionais e clientes e favorecendo o acesso ao bem-estar sexual de todos(as) as pessoas.