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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Casais do mesmo gênero são mais felizes? Pesquisa garante que sim

PeopleImages/Getty Images/iStockphoto
Imagem: PeopleImages/Getty Images/iStockphoto

Colunista de Universa

10/12/2022 04h00

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Existe uma crença popular de que casais do mesmo gênero teriam menos problemas conjugais do que casais heterossexuais. Quantas vezes já não escutei mulheres maldizendo a própria heterossexualidade, sugerindo que ser lésbica resolveria os conflitos tão comuns na relação com pessoas de gênero diferente.

No que se refere ao sexo, provado está que mulheres têm mais orgasmos na relação com outras mulheres, mas será que a relação entre pessoas do mesmo gênero promove a vivência de uma conjugalidade menos conflituosa?

Uma pesquisa norte-americana avaliou a resposta de 418 cônjuges em casamentos heterossexuais e homossexuais. "Os resultados indicaram que tanto homens quanto mulheres em casamentos do mesmo sexo são mais propensos a lidar com o estresse de forma colaborativa do que os casais heterossexuais." No caso das mulheres, a disparidade ainda é maior: elas relataram mais reações negativas de seus cônjuges do que as mulheres casadas com outras mulheres.

O que pensar a esse respeito? A resposta simplista - é mais fácil conviver com 'iguais' - é de fato acertada, mas está longe de se apoiar na biologia, pois somos seres múltiplos, que vivemos em comunidade e extremamente afetados pelo contexto sociocultural.

Em sociedades nas quais há muita desigualdade de gênero, muitos conflitos conjugais dizem respeito a divisão de tarefas em casa, cuidado e educação dos filhos e maneira de expressar o afeto e vivenciar o sexo.

Sabendo que a vida conjugal não é fácil para ninguém e que cada cônjuge traz a sua bagagem pessoal para a relação, partimos do pressuposto que os conflitos vão existir. Então, não é tanto sobre os problemas, mas a maneira que conversamos sobre eles, esse sim o maior gerador de abismo emocional entre os casais. Ninguém se abre se perceber que o outro está fechado para a compreensão das necessidades individuais, mesmo que elas lhe sejam assustadoras.

Um casal heterossexual, em sociedades patriarcais e machistas, já parte de posições diferentes, o que dificulta o entendimento das necessidades individuais. Quando os papéis são rígidos e você tem uma pessoa que goza o privilégio de dar as regras ou decidir que tipo de assunto pode ou não ser discutido na relação do casal, a dinâmica de gênero já é um fator estressor e que minará a capacidade de enfrentamento emocional. Em nossa cultura, mulheres foram responsabilizadas por cuidar das questões emocionais de filhos e maridos e homens, instigados a fugir de assuntos difíceis nesse campo. Então, há uma conversação truncada, que não avança.

Além disso, apoio e colaboração, tão importantes na resolução de conflitos, só podem ser desenvolvidos quando partimos da ideia de que todos temos direitos e deveres a compartilhar, que o casamento e o amor são um projeto comum e que haverá de ter esforços de ambos os lados para fazer funcionar.

O que explica o sucesso dos casais homoafetivos é justamente que, embora cada um traga sua própria experiência relacional, partem também de um mesmo lugar: quando vivem em sociedades homofóbicas, ambos tem que lidar com o estresse de minorias. Compartilham experiências assemelhadas sobre gênero e resposta ao estresse, o que facilita trabalharem juntos e se protegerem. Além disso, quanto menor é a rede de apoio (amigos, famílias e instituições), mais importante é resolver os conflitos conjugais, pois a parceria é uma importante fonte de equilíbrio e satisfação emocional.