Bancava um 'novinho' no século 19: quem foi a 'sugar mommy' de Tchaikovsky

O bom de ser psicóloga clínica é que os pacientes têm profissões muito diferentes, o que nos faz ter um panorama geral de experiências de trabalho diversas. Além disso, ficamos sabendo dos bastidores, o que nem sempre é legal. Mas, às vezes, a fofoca é boa!

Uma paciente querida que é filóloga —portanto se ocupa da literatura e cultura— comentou sobre um livro de troca de cartas de amor e escritos íntimos e se deparou com um texto que desvela a troca de correspondência do século 19 entre o compositor Tchaikovsky e a baronesa e patrona das artes Nadejda Von Meck, uma viúva rica e apaixonada por ele. Ambos russos e com nove anos de diferença —o que, para a época, poderia significar um escândalo.

De pulso firme, controladora e de temperamento difícil, ela era extremamente generosa com o músico e, entre outras benfeitorias, alugava vilas italianas e emprestava seu castelo na Ucrânia para o amado.

Relacionadas

O quanto vale uma pulada de cerca na madrugada?

Casais do mesmo gênero são mais felizes? Pesquisa garante que sim

Fingir orgasmo: por que mulheres ainda fazem isso e o que homens têm a ver

Mas a baronesa, que parecia nutrir uma espécie de amor platônico, fazia questão de que nunca se encontrassem, mesmo quando estavam residindo perto, em Florença, época em que ela descrevia seus passos a fim de que evitassem um possível encontro. Sim, meus caros, Nadejda era uma espécie de "sugar mommy" do famoso Tchaikovsky. Essa relação de "amizade intensa" durou 13 anos, e ela destinava somas em dinheiro ao "amigo" a fim de que ele pudesse se dedicar inteiramente a suas composições.

O relacionamento "sugar", como o dessa fofoca histórica, refere-se a uma relação romântica entre duas pessoas de idades distintas, nas quais a pessoa mais jovem gosta de ser mimada e é sustentada por dinheiro, presentes ou outros benefícios em troca da atenção e devoção à pessoa mais velha, o que pode incluir sexo. Características joviais, como a aparência física, são oferecidas em contrapartidas ao conforto proporcionado pelo dinheiro.

As motivações para uma relação sexual entre mulheres mais velhas e homens mais jovens incluem satisfação sexual, dominação, redução do estresse, atração física, procriação, sensação de juventude, dificuldade em encontrar parceiros de idade compatível e homens jovens vistos como menos exigentes e mais espontâneos. As motivações do outro lado incluem, além do ganho material, a redução do estresse, ser seduzido, rejeição por mulheres de idade compatível.

Alguns homens mais novos nutrem a crença de que mulheres mais velhas são melhores amantes, autônomas, independentes financeiramente e, muitas vezes, mais desejantes de que suas colegas da mesma idade, além de serem mais maduras emocionalmente -ou seja, mais preparadas para lhes ensinar sobre vida, amor e sexualidade.

No entanto, os homens mais jovens podem estar procurando por figuras maternas, companheirismo, alguém bom para conversar e compartilhar interesses em comum -o que me parece ter sido a real motivação para a relação entre Tchaikovsky e Nadejda, provando que não é só de sexo que se fazem as relações sugar.

Devemos lembrar que, por um lado, ser mulher, na Europa do século 19, não era equivalente a ter liberdade sexual, portanto é possível que ela não se permitisse tanto —e por isso evitava os encontros—, mas a troca de cartas fazia as vezes da manutenção da intimidade e do afeto.

Por outro, há quem aposte que o distanciamento físico também servia para evitar possíveis desajustes na dinâmica do casal. Tchaikovsky era homossexual e há especulações de que o rompimento da correspondência —e, portanto, da relação— se deu justamente quando a baronesa teve certeza disso.

Se fosse hoje, em tempos não tão rígidos, talvez eles conseguissem acomodar melhor uma fluidez amorosa e sexual. Quem sabe uma relação poliamorosa ou aberta ou até —e por que não?— uma assexualidade da parte dela.