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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que podemos aprender sobre satisfação sexual com mulheres lésbicas

Pesquisa apontou que mais mulheres lésbicas relataram estar sexualmente satisfeitas - Freepik
Pesquisa apontou que mais mulheres lésbicas relataram estar sexualmente satisfeitas Imagem: Freepik

Colunista de Universa

24/12/2022 04h00

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"Lesbian bed death" ou "o leito de morte das lésbicas", foi uma expressão concebida na década de 80 do século passado para nomear a diminuição da frequência da atividade sexual de mulheres lésbicas em relações longas. O termo foi criado a partir dos dados obtidos em uma ampla pesquisa sobre relacionamento realizada nos Estados Unidos com amostra diversa. Foi criticado por ser resultado de uma única pergunta: com que frequência, no último ano, você e seu parceiro tiveram relações sexuais? Questão com um viés enorme.

O que você entende por relação sexual? Se hoje ainda há quem ache que só é aquela com penetração, imagina no século passado. Além disso, o que sabíamos sobre o sexo e a relação entre mulheres? Pouco. Sem contar que, casais em longas relações de compromisso tendem a ter menos frequência sexual independentemente da orientação sexual e a pesquisa não cruzou esses dados.

A expressão fez com que lésbicas passassem a sofrer duplo preconceito em relação a sua sexualidade: por serem mulheres e já serem consideradas como "tendo menos libido" e por fazerem sexo entre si, reforçando a ideia de que, se não há uma pessoa com pênis na relação, não há tesão suficiente para mover o desejo sexual — tendo como resultado eminente a "morte do sexo".

Pesquisa recente do Kinsey Institute comparou a vida sexual de mulheres homossexuais e heterossexuais, a fim de entender melhor as diferenças na frequência e na satisfação sexual. Segundo os pesquisadores, "embora as lésbicas fizessem sexo com menos frequência e aquelas em relacionamentos longos relatassem declínio mais acentuado na frequência sexual do que as heterossexuais, mais lésbicas relataram estar sexualmente satisfeitas e se envolveram em comportamentos mais íntimos e tiveram orgasmos com mais frequência do que as heterossexuais."

Os pesquisadores perceberam, por exemplo, que beijos gentis, beijos profundos e declarações de amor são comportamentos que promovem intimidade e que, portanto, levam a maior satisfação sexual. Profissionais que trabalham com sexologia como eu, que escutam a reclamação de mulheres heterossexuais, já ouviram isso zilhões de vezes: falta gentileza, beijo de língua e declaração de amor. Também tem a turma que reclama da falta de pegada, de comunicação mais aberta sobre sexo e de originalidade.

Para compreender melhor satisfação sexual e separar isso de frequência o estudo abordou várias práticas e constatou que: 47% das lésbicas sempre ou quase sempre recebem sexo oral durante uma relação sexual, o que só acontece com 28% das heterossexuais. Além disso, 72% das lésbicas afirmaram que a relação durou mais de 30 minutos, o que acontece só com 48% das mulheres heterossexuais.

A matemática é meio óbvia: mais tempo de excitação, mais estímulo na vulva e no clitóris, resultam em mais orgasmos: 85% das lésbicas têm orgasmos sempre ou quase sempre, comparadas a 68% das heterossexuais. E sobre intimidade: 92% das lésbicas se envolvem em beijos gentis comparadas a 80% das heterossexuais e o "eu te amo" aparece sempre ou quase sempre na relação de 80% das homossexuais, e só acontece em 67% das heterossexuais.

Diante desses números, podemos chegar a duas grandes conclusões: um sexo bem gostoso gera mais satisfação do que dois meia-boca. Mulheres heterossexuais sofrem mais com isso, gozam menos e fingem mais orgasmos — já comentei sobre esses fingimentos semanas atrás. Então, que vantagem Maria leva em ter mais frequência sexual diante desse empobrecimento heterossexual?

Falta só a humanidade heterossexual calçar as chinelas da humildade e aprender sobre satisfação sexual com as mulheres lésbicas. Meta para 2023!