Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Já estamos preparados para fazer sexo com robôs?
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Daqui a 30 anos, será perfeitamente comum uma pessoa experimentar fazer sexo com um robô sexual. É o que diz o roboticista David Levy. Além dele, há quem aposte, que, em 2050, faremos mais sexo com eles do que com pessoas de carne osso.
Essa ideia pode parecer muito estranha, mas, antes de sair por aí apostando na insanidade alheia, lembre-se de que, até bem pouco tempo atrás, ter um vibrador em formato fálico, aos olhos dos outros, era atestar incompetência, libertinagem ou solidão. Vale pensarmos no que uma leitora me escreveu outro dia:
"Hoje, se uma mulher famosa compra um vibrador, logo aparece nas redes sociais como ela é empoderada, independente etc. O vibrador é a representação do pênis, logo, do corpo masculino. Então, por que quando um homem compra uma boneca sexual ele é pervertido? Não teria que ser igual?"
Há uma grande controvérsia sobre esse tema nos debates públicos e acadêmicos. Bonecas sexuais realistas e robôs sexuais com movimentos e alguma interação poderiam só ser considerados brinquedos sexuais de alto nível, ou teriam um papel diferente e de maior relevância na vida sexual e social de seus usuários? Estamos preparados para interagir com parcerias sintéticas pós-humanas, que, em muitos casos, podem substituir parcerias reais?
Um estudo antropológico com 83 pessoas que têm bonecas revelou que a maioria caracteriza o relacionamento com o objeto como uma relação sexual. Muitos descreveram como "companheirismo" e outros como uma "relação amorosa", o que sugeriu aos pesquisadores que, além da gratificação sexual, as bonecas são multifuncionais (allodolls), que podem fornecer parentesco pós-humano e aliviar a solidão.
Ao não reduzir as bonecas a meros brinquedos sexuais, seus proprietários costumam criar narrativas ricas sobre suas personalidades, história e experiências, integrando vida doméstica, viagens ao ar livre e encontros sexuais.
Sobre o prazer sexual, há quem compreenda que bonecas(os) e robôs sexuais podem proporcionar efeito positivo, como exploração da sexualidade e satisfação. Uma pesquisa com 52 donos de bonecas (6 mulheres) em um fórum online internacional mostrou que os entrevistados as usaram sozinhos e acompanhados e avaliaram a experiência como agradável. Além disso, não apresentaram saúde mental ou satisfação com a vida abaixo da média, mas relataram alguns problemas com o funcionamento sexual.
Faltam estudos que analisem essa função adaptativa na relação homem/mulher - boneca/robô, como uma maneira de dar vazão a desejos e fantasias sexuais que, se fossem realizados com pessoas reais, seriam de alto risco físico e/ou emocional. Como seria, por exemplo, ter uma boneca sexual como alternativa para uma relação não-monogâmica - faria alguma diferença?
Outras motivações podem ser a tentativa de evitar sofrer acusação de abuso sexual, de ter a performance julgada durante o sexo, sofrer ou causar ciúme excessivo, ser lubridiado ou enganado por uma pessoa com quem se esteja afetivamente ligado. O brinquedo pode ser um recurso interessante para pessoas com dificuldade de interação interpessoal, de estabelecer intimidade emocional e, quem sabe até uma forma de 'treinar' a atividade sexual, para quem se perceba muito inseguro - como uma etapa de transição.
Mas, claro, há que sempre levar em conta implicações práticas, legais e éticas. Algumas pessoas apostam que bonecas ou robôs sexuais podem substituir a prostituição. Mas quem disse que profissionais do sexo são tão somente um corpo para desfrute alheio e mais: que eles e elas desejam serem dispensadas(os) de seus trabalhos? Os primeiros bordéis de bonecas sexuais já foram abertos na Ásia, América do Norte e Europa, sendo que os clientes escolhem uma boneca sexual de preferência e pagam um valor para entrar em uma sala e passar algum tempo com ela.
Outra implicação ética está relacionada às bonecas sexuais infantis. Embora alguns sugiram que serviriam para que o desejo seja descarregado, evitando abusos sexuais e estupros reais, há uma forte tendência ao entendimento oposto, que elas legitimam e normalizam a pedofilia e, portanto, precisam ser proibidas.
Outra questão importante a ser considerada: será que o uso de bonecas e robôs sexuais, principalmente por homens, não fomentará a objetificação dos corpos femininos, reforçando uma conduta machista, egoísta e também violenta? (Bonecas sexuais não conseguem consentir o sexo, não é mesmo?) Há também a mercantilização dos corpos, já que muitos proprietários encomendam bonecas personalizadas, de acordo com padrões de beleza feminina estereotipados.
Como questionam os pesquisadores Döring, Mohseni e Walter (2020): "(...) mulheres e meninas adolescentes, já prejudicadas pela exposição onipresente a padrões de beleza irrealistas na mídia, se sentirão ainda mais inadequadas quando expostas a uma cultura de consumo que comercializa bonecas sexuais perfeitamente belas, eternamente jovens e completamente submissas. Estamos olhando para um futuro ainda mais desigual de gênero?". E aí, você teria um(a)?
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