Topo

Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pênis pequenos e carros velozes: por que que homens precisam se autoafirmar

Pesquisa diz que quanto menos seguro é o homem, mais ele se apoia em objetos que remetem à potência, como carros - Getty Images
Pesquisa diz que quanto menos seguro é o homem, mais ele se apoia em objetos que remetem à potência, como carros Imagem: Getty Images

Colunista de Universa

17/01/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Um estudo feito na Inglaterra com 195 homens entre 18 e 74 anos confirmou aquilo que a gente já sabia: quanto mais frágil é o sentido da masculinidade de um homem, mais ele vai se apoiar em objetos e elementos que demonstrem poder e potência, como uma forma de compensação. Carros esportivos, por exemplo, daqueles bem caros e supervelozes, são um clássico.

Os pesquisadores usaram uma estratégia bem interessante, que já li em outros estudos: dar informações falsas para compreender, posteriormente, a reação das pessoas diante de alguns elementos. Nesse caso, o impacto emocional sobre como esses homens foram avaliados no tamanho do seu pênis, fez uma espécie de compensação masculina projetiva.

Eles dividiram os pesquisados em dois grupos. Um recebeu a informação de que a média do tamanho do pênis é de 18 cm, o outro, que era de 10 cm (a média verdadeira é 14 cm). Em seguida, todos foram convidados a classificar seu interesse por comprar um carro esportivo. Não deu outra: o primeiro grupo se julgou menos dotado e demonstrou mais interesse pelos carros velozes do que os do grupo que tiveram a informação de que a média peniana seria de 10 cm.

Máquinas potentes sempre foram associadas a performance do "macho alfa". Quanto mais caro e potente o carro (às vezes grande), maior visibilidade na escalada da masculinidade tradicional. Também não é incomum, escutar —na maior parte das vezes de homens criados dentro desses parâmetros— o termo "máquina" para designar uma mulher, digamos, bela e "gostosa". A objetificação e a mercantilização dos corpos é clara.

O conceito de performatividade de gênero da filósofa americana Judith Butler cabe bem para explicar: nascer homem ou mulher não determina o comportamento; as pessoas aprendem a se comportar de maneiras especificas para se enquadrar socialmente. É uma construção social, e acontece também com as mulheres.

No nosso caso, roupas, sapatos, cabelos, maquiagem, silicone, tudo pode também ter esse sentido que vai além da legítima expressão de identidade pessoal. É fácil cair na cilada da feminilidade competitiva para sentir-se dentro do grupo das escolhidas e desejadas. Carros esportivos, velozes, de preferência com a capota abaixada, também conferem glamour às mulheres —assim como pilotar grandes e clássicas motocicletas

Nesse sentido, é um esforço não minimizar aquilo que temos ou fazemos que não esteja dentro dessas performances clássicas da masculinidade e feminilidade. Ninguém dará muito valor para o carrinho que você empurra na feira, mas é possível ser sexualmente interessante mesmo que esse seja o "único" objeto com rodas que você tenha em casa.