Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Quem amou sabe: a gente se arrepende um pouco ao terminar uma boa relação
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Essa semana, mais uma vez, me deparei com o fim de um amor. Foi o fim de um amor erótico para uma das partes. O amor fraterno tomou lugar, doce, terno, e fez minguar ao menos por agora, o desejo. É triste porque o casal era afinado. De longe uma relação equilibrada, compartilhada, íntima, longe das gangorras emocionais que muitos vivem: raiva, incoerência e inquietude tomando conta de todos os poros. Cansa. Mas, ao que tudo indica, pares de almas, que se reconhecem e se sentem tão à vontade um com o outro, também se acostumam demais com a quietude, a ponto de sentir necessidade de se afastarem.
Certa vez li que as pessoas têm três amores na vida: o primeiro, da adolescência é o mais idealizado de todos, o da descoberta, intenso, que nos coloca diante das tantas emoções. Medo, frustração, euforia, tesão.
O segundo é o amor com quem se "casa", tem filho (ou não), e divide as agruras e conquistas do adultecer.
O terceiro é o amor da maturidade, do compartilhar o que se construiu na vida toda, é o amor do desfrute, da conversa, do cuidado, do lazer, o amor mais parecido com você.
A cada etapa da vida, as expectativas mudam, e é importante que os parceiros de alma sejam flexíveis o suficiente para ajustar as necessidades individuais, adaptando para o projeto comum.
Talvez muitos casais em união estável de longa duração e com felicidade no coração sejam assim, cada qual três amores em um.
Mas, na grande parte das vezes, os amores da juventude não conseguem suportar os encantos da vida adulta, da autonomia, da liberdade, do fortalecimento do ego. O desejo grita, solicita e precisa, sem medo, culpa ou compromisso, sair por aí. E o risco inerente fantasia um tempo suspenso, para voltar lá na frente e resgatar aquele com quem se tem "quase certeza" de viver para sempre.
Alguém com quem se partilha intimidade incrível no sexo não se encontra assim tão facilmente. Claro que faz muita diferença, mas nem sempre os amores de alma são excitantes, desafiadores, instigantes ou sensuais. E essa dualidade de amar alguém e desejar outra pessoa pode ser muito difícil para quem se atém a um contrato de exclusividade. Desfazer uma relação, nessas bases, é muito mais do que triste... É uma injustiça com a nossa humanidade.
É muito difícil decidir quando é chegado o tempo de partir. Quem amou um dia sabe disso. Quando a relação é boa, a gente sempre vai se arrepender um pouquinho depois. Mas nem sempre é possível viver o agora no que poderá ser no futuro.
A desesperança nasce na falta de uma crença conjunta —o amor só não basta, porque ele precisa ser convertido em ação.
Caminhar lado a lado, nas dificuldades e nos períodos de tormenta só funciona para quem não fica parando, a cada curva, reclamando que está cansado ou que não sabe ao certo se quer voltar.
Escrevo essas pequenas reflexões em homenagem a duas queridas mulheres, que por coincidência tem o mesmo nome. A primeira, após um longo tempo de separação do seu amor juvenil, casou com ele quando prontos estavam para assumir o amor adulto. A segunda está a sofrer, pois seu amor juvenil "de alma", como ela gosta de frisar, acabou de partir. Um abraço apertado. Estou por aqui.
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