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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Falta de sexo no casamento não tem só a ver com tempo de relação

Tédio nas relações está mais ligado à personalidade de cada um - Getty Images/iStockphoto
Tédio nas relações está mais ligado à personalidade de cada um Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colunista de Universa

25/03/2023 04h00

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Tédio sexual é uma queixa comum nos consultórios Não há consenso sobre o conceito nem muitas pesquisas sobre o tema, mas os estudos disponíveis ressaltam os motivos: monotonia, falta de estímulo e sensação de ambiente enfadonho. Em se tratando da atividade sexual de casais, principalmente os de longa data, pode estar relacionado com a falta de criatividade, com o sexo que segue o mesmo script de sempre.

Conselhos como pensar fora da caixa, fazer diferente para ter outra resposta, deixar acontecer e outras frases de impacto você certamente já ouviu e funcionam. Mas o atropelamento do cotidiano, com milhares de tarefas, horários e encaixes na agenda, deixa o espaço criativo na UTI. O ser humano tende a se adaptar e a repetir padrões. No dia a dia cheio de tarefas, em se tratando de prazer, muitas vezes parece mais fácil só apertar os botões do que funciona.

Pesquisadores da Universidade do Porto, em Portugal, se debruçaram sobre o assunto e encontraram alguns pontos interessantes sobre o sentido de estar preso a um presente interminável e insatisfatório ligado a sexualidade. O estudo, publicado em 2021, mostra que há correlação entre a sensação de tédio e a resposta sexual (desejo, excitação e orgasmo) e a satisfação sexual (erotismo, frequência, intimidade).

Também há fatores relacionados à personalidade: pessoas propensas a ficarem entediadas, em geral, são as que mais apresentam essa percepção de que o sexo é pouco estimulante, repetitivo ou monótono.

Descompasso sexual: quando um casal perde o ritmo

Outro fator interessante está ligado aos processos de atenção: se uma pessoa não se interessa por estímulos sexuais, é provável que não consiga se manter com foco no sexo, o que impactará na excitação e, portanto, culmina nesse sentido de tédio. O contrário também é possível: para quem já tem déficit de atenção, distrações interferem no desempenho sexual, o que levará ao tédio depois.

Os estudos sugerem, então, que o tédio sexual, pode não ser só o resultado de relações monogâmicas ou da falta de novidade —algo socialmente propagado como único destino dos casados—, mas também uma manifestação de tédio, inerente à experiência humana, e da maneira como lidamos com ele.

Novas parcerias, com seus jeitos particulares, nos mobilizam, mas o desafiador é encontrarmos energia para nos tornarmos desejantes no sexo e na vida. Pessoas com mais dificuldade de gerar estímulos sexuais interessantes a partir de si dependem mais das parcerias, o que pode ser desafiador para a sua vida sexual e um peso para a outra pessoa, que também quer ser motivada, levando-os a insatisfação sexual.

As pessoas que apresentam maiores características positivas ligadas ao sexo são as que dizem estar menos entediadas, inclusive nos relacionamentos duradouros. Ou seja, fazem a roda do erotismo girar, tem entusiasmo sobre o assunto e se divertem mais, contribuindo na melhora do seu bem-estar. Não tem a ver com o tempo.