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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Novela mostra que abstinência sexual para jovens é cilada que expõe a risco

Jenifer (Bella Campos) em "Vai na Fé": sexo só depois do casamento depois de primeira experiência frustrante - Globo/Fábio Rocha
Jenifer (Bella Campos) em "Vai na Fé": sexo só depois do casamento depois de primeira experiência frustrante Imagem: Globo/Fábio Rocha

Colunista de Universa

02/05/2023 04h00

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É interessante notar a diferença entre as personagens Jenifer (Bella Campos) e sua amiga Kate (Clara Moneke) na novela "Vai na Fé", da Globo. Enquanto a primeira adota uma postura conservadora sobre a sexualidade, a segunda é uma mulher livre, bem informada e conhece métodos contraceptivos. Assim, Jenifer, no dilema de lidar com seus desejos em detrimento dos princípios religiosos que segue, acaba, por assim dizer, tendo uma relação sexual de maneira inesperada e sem prevenção. Mostra que, quanto mais negamos informações sobre sexo, tornando o assunto um tabu, mais jovens estarão despreparadas, como ela.

Quando adolescentes me perguntam sobre a melhor idade para iniciar a vida sexual, sempre os faço pensar sobre o contexto. A idade, embora seja um marcador importante sobre a maturidade do corpo para uma relação, nem sempre se revelará congruente, no aspecto emocional. Jenifer, da novela, já está na universidade, mas age como uma adolescente vulnerável, tão nublada que está sua consciência, tomada pelo terror do pecado.

A novela mostra outro medo bastante comum que vem da relação sexual sem informação aliado ao conservadorismo: o pânico de engravidar. Quanto mais errada se sente sobre ter feito sexo, mais o tormento da gravidez lhe invade. A gestação, embora possa ser de fato uma ocorrência em relações não protegidas, serve também à culpa: uma punição pelo malfeito, uma maneira de ser apedrejada em praça pública.

Para além do conhecimento básico sobre reprodução e métodos contraceptivos, além da prevenção sobre ISTs, precisamos abordar todas as questões sobre a prática propriamente dita e a insegurança natural que prevalece nesse momento. Passam por essa conversa a discussão sobre como dar e receber prazer, como aprimorar a ideia de consentimento, como acolher a própria insegurança e a da parceria e como tornar a experiência uma descoberta de sensações.

Também não é o status da relação o que mais importa: embora a maioria dos adolescentes se iniciem sexualmente com namorados, o que favorece a conexão e a intimidade, é importante lembrar que há muito traste por aí, se fingindo de fofo. Então, é preciso estimular os jovens a pensarem de modo mais amplo, partindo da primeira e principal pergunta: fazer sexo é um desejo seu?

Sexo é bom para todo mundo

Depois disso, refletir sobre a escolha da parceria, alguém por quem sentir tesão, mas também que saiba dar valor emocional a esse momento. É uma pessoa que não vai pressionar, caso, no momento, se desista de ir adiante? Que não tire fotos ou vídeos e repasse para todas as pessoas no dia seguinte? Que seja cuidadoso e que se preocupe com a sua própria saúde sexual e a da parceria? Que não estejam sob o efeito de álcool e drogas psicoativas?

Eu sei que, boa parte das vezes, os adolescentes têm dificuldade em tomar decisões baseados em avaliação de riscos, mas eles não são bobos, então eu conto com a informação para que possam usá-la da melhor maneira. Fazer sexo com culpa é sempre o pior cenário.