Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Orientação sexual não se escolhe, mas também não é a mesma por toda a vida
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Há várias possibilidades de orientação sexual, que é a atração por um ou outro gênero, os dois ou nenhum. Dependendo do momento da vida, é possível que se vire uma chave, se abra um armário ou simplesmente que uma vivência diferente mude um pouco os rumos, fazendo com que algumas pessoas possam fluir entre as orientações.
Embora a atração sexual possa ser clara para alguns, para outros, a vontade de estar com alguém pode ter mais relação com conexão emocional e objetivos em comum, sendo o desejo sexual pela parceria uma consequência.
E embora a orientação sexual não seja uma escolha racional, acho difícil afirmar categoricamente que ela nunca mude, pois tem nuances que podem aparecer com o tempo. Ou vai ver que ela não muda, mas em determinadas situações, o gênero da pessoa amada fica em segundo plano, no sentido da atração. É aquela história: em princípio amamos pessoas e, às vezes, o desejo combina com isso; em outras, não. Aqui já se abre uma distinção interessante: existe a orientação romântica e a orientação sexual.
Conheço casos de pessoas que se denominam como heteroafetivas ou heterorromânticas, o que significa que desejem romance com pessoas de gênero diferente, mas se atraiam sexualmente por alguém do mesmo gênero. Há também as que têm tanto o interesse afetivo quanto sexual para um mesmo gênero. Por isso mesmo que hoje, em se tratando de atração, sexo e afeto não caminhem mais sempre juntos e distingue-se orientação sexual de orientação romântica.
Essa fluidez no desejo sexual é observada mais frequentemente em mulheres. Nada incomum se deparar com relatos de que se casaram com homens, por quem se sentiram atraídas sexualmente, mas que se envolveram com outras mulheres posteriormente, destacando o papel dos afetos nessa relação. Algumas, inclusive, identificam alguma atração sexual por homens, algo que fica em segundo plano quando se tem prazer no sexo e qualidade na relação com uma parceira.
Sexualidade e identidade de gênero são coisas diferentes e multifacetadas
Essa maior flexibilidade, apostam alguns, se dá porque nós, mulheres, somos mais livres para viver ao lado de pares do mesmo sexo, sendo os homens mais socialmente julgados por manifestações afetivas com outros homens. O preconceito acontece para ambos os gêneros, mas a hipótese é a de que, para as mulheres, a relação de intimidade emocional com outra mulher não seria uma novidade, já que socialmente essa troca afetiva e de carinho é mais aceita.
Outra questão que também ilustra a fluidez de gênero é o papel da cultura no formato de convivência familiar, por exemplo. Aprendi recentemente no perfil @verbopreto que existem relatos históricos sobre casamentos entre duas mulheres que não podem ser considerados homoafetivos, ao menos no que diz respeito à questão da atração sexual e romântica.
De acordo com o historiador Kenneth Nwoko, o casamento entre mulheres-marido foi uma prática comum em mais de 30 sociedades em África. Mulheres maduras, sem maridos ou filhos, com condição econômica elevada, a fim de resguardar sua linhagem e riqueza, podiam se casar com outras mulheres. Essa relação não era de cunho romântico ou sexual, mas tinha o mesmo status, sendo celebrada e reconhecida pelo grupo.
Mulheres-marido ganhavam mais status e poder e, suas esposas, normalmente, tinham liberdade para ter vários parceiros sexuais anônimos. Qualquer filho resultante de uma atividade sexual dessa natureza era considerado filho da relação principal. Um exemplo de fluidez de gênero mas que não estava atrelada ao desejo sexual e, sim, servia para a manutenção das tradições culturais.
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