Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Sua mãe sente tesão e vai gostar de ganhar um vibrador
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A apresentadora Angelica causou o maior fuzuê nas redes sociais ao fazer, nesse semana, uma propaganda de vibrador como sugestão de presente de Dia das Mães. Muitas pessoas aplaudiram a iniciativa, já que desconstrói a santificação materna. Mãe também é mulher e, portanto, também faz sexo e tem direito ao prazer.
Dediquei algum tempo lendo comentários e fiquei atônita com o furor uterino das que recriminaram a sugestão. Acharam um absurdo, baixaria e desrespeito. Confesso que ri, mas juro que foi com respeito.
Acho que já melhoramos e entendemos que eletrodomésticos de presente no Dia das Mães é um acinte, pois nos coloca naquele lugar de subserviência terrível. O presente é um ato simbólico de reconhecimento da dedicação, portanto, deve agradar a mãe/mulher e não a todos que vão se beneficiar da casa mais limpa ou da comida feita na panela nova. Dito isso, não há uma categoria presente de mãe, embora colar com pingentes de criancinhas sejam um clássico.
Pode bastar uma cartinha de agradecimento com um mamãe te amo, um café na cama, um abraço apertado, um almoço no restaurante ou uma flor colhida no jardim, pois tudo isso enche o coração de amor. Mas, se você optar por entrar na engrenagem do capitalismo e se render ao mercado, que aguarda ansioso pela segunda data mais lucrativa do ano —só perde para o Natal, para ver como nós as mães somos quem levam esse Brasil nas costas—, então há que se pensar no que fará essa mamãe/mulher feliz.
Sexoterapia: por que a masturbação ainda é tabu?
Compreendo o estranhamento com a propaganda do vibrador, mas já vi gente presenteando a mãe com pacote de drenagem linfática, spa day, produto para o cabelo e para o corpo. Se a ideia é promover o prazer e o bem-estar, então sex toys entram na lista, não sejam preconceituosos. Se alguém é capaz de dar de presente um medidor de pressão ou massageador para as pernas, não me venham com essa.
Mas daí tem o entrave do tema, sexo. Deve ou não ser incorporado no debate público?
Sei que reações calorosas podem vir da internalização de que o tema é um tabu. Mas também acho que há um limite na intimidade entre pais e filhos e que existem muitas camadas a serem consideradas. Depende de como a família lida com o tema do prazer.
Filhos de sexólogas, por exemplo, nem acham o presente original assim. Outro dia, os amigos do filho de uma colega estavam às escondidas combinando de ir em uma sex shop quando ele disse: "Para quê? Vamos lá em casa que tem de tudo". Outro sugeriu que a mãe faça uma parceria com alguma marca de sex toy para lançar um vibrador com seu nome. Mas, para vocês verem como são as coisas, o mesmo moleque disse que não daria um vibrador de presente para a mãe. Aqui em casa, quando chega uma encomenda e atestam que é para mim, meu filho frustrado já logo solta: "Se não é livro, é vibrador". Se vai precisar de muitos anos de terapia no futuro, veremos.
Ninguém precisa achar conveniente ganhar ou dar um vibrador. Embora devamos, sim, falar mais abertamente sobre prazer sexual, também há cuidados a se tomar nesse campo e nem tudo é da ordem da caretice: mesmo que se admita que a mãe faz sexo, só fica incômodo imaginá-la nessa situação. Mas achar falta de respeito já é outra coisa. Mantém o sexo na marginalidade ou, pior, borra a liberdade feminina, a duras penas conquistada, e reforça que o nosso erotismo deva ser escondido.
Sou a favor da liberdade e do bom senso. Vende quem quer, compra quem achar que deve. E faço coro com o melhor comentário de todos, de uma mãe: "Não me dando desgosto, pode ser o presente que for."
Sex toys para o seu prazer
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