Casais felizes no sexo marcam dia e hora para transar

"Vamos fazer o exercício no sábado? Segunda-feira temos sessão com a Ana." O exercício em questão é alguma atividade sexual que sugeri a um casal de pacientes. Pode ser um mapa erótico, uma exploração de estímulos nos genitais, uma troca de mensagens sacanas pelo celular, uma investigação de erotismo. Sim, eles têm que se organizar para fazer, o que soa, para muitos, burocrático demais. Mas marcar dia e horário para se dedicar ao sexo dá certo.

Pesquisadores da Universidade de York, no Canadá, fizeram dois estudos sobre sexo espontâneo e sexo planejado e a relação com prazer e satisfação sexual. Perguntaram aos participantes o quanto ele concordavam com as frases "o sexo com meu parceiro é mais prazeroso quando acontece espontaneamente" e "prefiro saber antecipadamente quando faremos sexo novamente". Também mediram o quanto a experiência sexual mais recente dos participantes havia sido ou não planejada, o grau de prazer e de satisfação sexual, além da satisfação com o relacionamento. No segundo estudo, acompanharam as atividades diárias dos casais por três semanas.

O resultado é o mesmo que observamos na clínica: embora o sexo espontâneo seja o idealizado, o que pode gerar satisfação sexual, ele não é mais prazeroso do que o sexo planejado. Continuamos a valorizar aquela transa inesperada, que vem de uma combustão química de desejo e tantas vezes encenada em filmes e séries. Mas o prazer sexual em si tem a ver com as parcerias com as quais estamos intimamente ligados e com o desejo que responde a estímulos e aciona a memória erótica que temos com determinada pessoa.

Outro ponto importante que a pesquisa mostra: para as pessoas que consideram o sexo planejado como mais prazeroso, o nível de satisfação sexual foi mais alto em relação ao grupo que torce o nariz para transa com hora marcada. Então, tudo depende, a meu ver, do quanto consideramos o planejamento da atividade sexual uma grande perda erótica ou do quanto valorizamos o prazer sexual e a intimidade relacional, apesar de nem sempre ter sexo espontâneo.

Sexoterapia: como alinhar o desejo sexual do casal?

Os pesquisadores afirmaram que a espontaneidade parece ter a vantagem de aumentar a excitação sexual, enquanto o planejamento favorece maior adequação de tempo para a privacidade, investimento em toques, carícias e práticas como manipulação digital e sexo oral, além de preparar a mente para o ato, evitando distrações com pensamentos de outra ordem. Alguns participantes mencionaram que o planejamento também pode gerar excitação, já que ocupará o pensamento com erotismo, fazendo as pessoas se prepararem para o encontro.

É possível que alguns afirmem categoricamente que planejar o sexo é melhor, pois evita desencontros ou frustra expectativas. Mas, para tanto, é preciso também lidar com a frustração de que o desejo espontâneo já não é mais o mesmo. É uma delícia sentir uma motivação natural para seduzir e se entregar a alguém, mas, normalmente, isso acontece nos anos iniciais dos relacionamentos.

Sexo quente, cheio de energia, com tesão transbordando por todos os poros, desses que acabam acontecendo dentro dos carros, nas escadas de incêndio ou nos banheiros das baladas pela urgência do desejo, são os que preenchem as conversas de bar e ficam em nossa memória. Não costuma ser tão interessante quanto contar sobre o sexo que rola no domingo de manhã com o mesmo parceiro de dez anos de casamento.

O melhor dos dois mundos é ter no cardápio todas as versões. No entanto, é preciso desmistificar que, se um casal faz sexo planejado, é porque a relação não é boa. Pelo contrário: o bem-estar sexual deles existe justamente por isso.