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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sexo ajuda casal a fazer as pazes após briga, mas não cura tudo

Dizem que transa depois de briga resolve tudo. Será? - iStock
Dizem que transa depois de briga resolve tudo. Será? Imagem: iStock

Colunista de Universa

27/05/2023 04h00

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Embora muitas pessoas se sintam indisponíveis sexualmente em decorrência de brigas e conflitos conjugais, quem já experimentou um sexo de reconciliação, ardente e vigoroso, sabe bem como também pode ser bom. Aliás, cenas de sexo apaixonadas, retratadas com tanta frequência nos filmes, muitas vezes acontecem após dramas recheados de raiva e indignação.

Os estudos sobre sexo de reconciliação não são conclusivos: alguns sugerem que o conflito pode funcionar como uma espécie de catalisador sexual, aumentando a intimidade e a frequência. Explica-se esse efeito pela teoria de transferência de excitação, quando situações que envolvem uma excitação fisiológica, como andar de montanha-russa, exercitar-se ou mesmo atravessar uma situação de ansiedade, podem ser canalizadas para o sistema de atração sexual, favorecendo a descarga de tensão.

Como conflitos relacionais também geram aumento de excitação, é possível que experiências sexuais se tornem excitantes nesse contexto. Além disso, como já é sabido que a atividade sexual promove aumento de sensações de bem-estar, fazer sexo logo após uma discussão amortece o impacto do conflito no funcionamento da pessoa, atenuando também os pensamentos negativos sobre a parceria e sobre a satisfação no relacionamento.

Outros estudos, no entanto, apontam que desavenças conjugais geram efeitos ruins, como humor negativo e estresse, sendo fator de risco para disfunções sexuais. Creio que há muitos aspectos a considerar, como o tipo de conflito, o medo do rompimento e a personalidade da pessoa. Quando se está cronicamente preocupado com o relacionamento, isso pode prejudicar o foco na experiência sexual em si. Além disso, se enxergo a parceria como uma pessoa inimiga, de quem devo me defender, reduz-se significativamente a capacidade de entrega sexual e desfrute.

Quanto mais alguém é ressentido, com pensamentos ruminantes, mais difícil fica flexibilizar. Por outro lado, quando alguém compreende o sexo como reafirmação de afeto e desejo, ele pode servir para apaziguar as fantasias de dissolução do casal, reforçando a qualidade do sexo como um ponto importante do relacionamento.

Sexoterapia: O que fazer quando o casal perde o ritmo?

A fim de obter mais evidências sobre os efeitos do sexo de reconciliação, uma pesquisa avaliou se é mais provável a relação ocorrer nos dias em que os casais têm conflitos, se ele é sentido como mais satisfatório e se diminui os efeitos negativos do problema nos relacionamentos. Analisaram 107 casais recém-casados por 14 dias, utilizando questionários individuais e diários, para registro sobre conflitos, atividade sexual, satisfação sexual e satisfação no relacionamento.

Após seis meses os casais foram reavaliados. Os resultados apontaram que o sexo de reconciliação não é percebido como sendo mais satisfatório do que a relação sexual que acontece fora do contexto conflitivo, indo na contramão do que está no nosso imaginário.

Ele também não tem um efeito importante na percepção de satisfação com o relacionamento de modo geral.

No entanto, ele tende a reduzir parcialmente o efeito negativo de um conflito na satisfação conjugal, portanto, pode ser uma estratégia bem-sucedida de proteção contra implicações negativas imediatas, mas não a longo prazo.

Serve como uma boa distração e tem efeito positivo sobre o humor, mas problemas sem solução tendem a afetar negativamente a qualidade da relação.

Portanto: sexo não é cura para tudo. É aquela velha estratégia de melhorar o humor com sexo, o que eu sempre acho uma ótima ideia, desde que ambos desfrutem dos benefícios e que conflitos importantes a serem negociados não sejam jogados para baixo do tapete. Pois cada um que lide com seus humores, as parcerias não podem ficar com essa responsabilidade ou obrigação.