Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mulheres se preocupam mais com si próprias e carreira do que com amor
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No terceiro episódio desta temporada do podcast "Sexoterapia", tratamos de uma questão atual: estaríamos mais individualistas e, por isso, menos tolerantes para tratar as relações amorosas com o cuidado que carecem e merecem.
Durante minha preparação para o episódio, me deparei com um estudo interessante, realizado com alunas e alunos heterossexuais da UnB (Universidade de Brasília). A amostra foi de 1.282 respostas a um questionário que investigava uma série de questões sobre amor e sexualidade, reconhecimento profissional, casamento, família, desejo de ter filhos, amizades, individualismo, fluidez das relações, desejo de permanência, entre outras.
Os resultados são instigantes. Algumas compreensões sobre a necessidade de manutenção de individualidades tiveram valores altos de resposta afirmativa, como "não faz sentido manter uma conta conjunta" ou "cada um deve manter a sua individualidade". Já expressões como "não suporto ninguém no meu pé" e "um pode ter a senha do celular do outro" dividiram as opiniões, ficando os valores na média da escala.
Fazendo o recorte por gênero, as mulheres apresentaram percepções mais associadas ao individualismo do que os homens, contrariando o perfil largamente disseminado sobre quanto as mulheres são mais altruístas e devotadas aos outros do que eles. Cabe aqui uma ressalva: muitas vezes o que se fala não é o que efetivamente acontece.
Sexoterapia: 'Minha mulher diz que devo achar os caminhos sexuais dela'
A pesquisa mostra ainda que as mulheres, mais do que os homens, tendem a "preservar sua individualidade, preocupar-se com o sucesso profissional e não vincular a sua realização na vida com a existência de um grande amor ou de filhos, sobretudo as mulheres com renda familiar mais baixa".
A história foi tão castradora com as mulheres que desvincular a identidade feminina do casamento e da maternidade faz parte dos processos de autodesenvolvimento. Só reforço que isso não significa que não haja espaço para o amor ou para se ter e criar filhos, mas que eles agora são divididos com outras dimensões da vida.
Essa desconstrução sobre a ideia de que o amor é fundamental para a felicidade individual ficou bem delimitada no estudo: 71% dos respondentes "discordaram" da afirmação "só podemos ser completos com um grande amor do lado", sendo que 48,5% deles discordaram totalmente. E novamente foram as mulheres que elevaram os índices: elas discordaram ainda mais (78%), sendo que 56% delas discordaram totalmente.
Pouco mais da metade dos entrevistados respondeu afirmativamente à frase "casamento é para a vida toda", revelando essa ambivalência atual sobre os relacionamentos: ao mesmo tempo em que as pessoas desejam permanência, construção de laços para configurar sentimento de segurança e pertencimento, é difícil mantê-la em tempos cujas aspirações individuais, o desfrute rápido e a fluidez falam mais alto.
As pessoas desconfiam da relação, pois sabem que é difícil enfrentar as inevitáveis tensões da vida em comum e renunciar à liberdade individual, inclusive a sexual, tão valorizada. Estamos diante do paradigma afetivo da pós-modernidade.
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