Por que tem mulher hétero que dá em cima de lésbica só por ego?

Uma ouvinte do "Sexoterapia", bissexual e casada com frestas —aliás, adorei esse termo para se referir a uma relação aberta— levantou uma questão muito interessante. Ao ouvir o episódio sobre heteropessimismo, que é uma decepção generalizada de mulheres em relacionamentos com homens, ficou pensando se o fenômeno também não gera uma outra manifestação entre mulheres, que ela chamou de heterovaidosa. Explico.

Em sua experiência, percebeu a repetição de um padrão: muitas mulheres, sabendo que são desejadas pela ouvinte, fazem contato, entram no jogo da paquera, chamam para tomar uma cerveja, usam a célebre frase "lembrei de você" para fazer contato mas, na hora H, "ai, não, desculpa? Sou hétera".

Então, ela questiona se essa mulher não estaria desviando a necessidade de atenção que gostaria de receber dos homens, já que estão desesperançosas com a atitude masculina e cansadas das relações heterossexuais.

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Manteria, assim, sua vaidade em um jogo de sedução, mas se protegendo de possíveis frustrações se o fazem com pessoas do gênero oposto.

A meu ver, residem nessa reflexão alguns fatores. Existe essa maior facilidade que as mulheres têm para transitar nos afetos com iguais. Também há uma percepção de que as mulheres são mais dóceis e submissas e, então, saberiam lidar melhor com as frustrações e respeitar o consentimento.

Sexualidade livre: 'Sinto prazer tanto com homens quanto com mulheres'

Mas como o comportamento humano é motivado por uma série de questões, é possível também que haja um interesse real, um desejo de experimentação homoafetivo que, em maior ou menor grau, às portas da concretização, pode assustar. Por falta de experiência e jeito, ficam testando os limites do próprio interesse, se observando nesse jogo. Algumas podem, inclusive, temer se apaixonar por terem internalizada a crença de que sexo e afeto sempre devem caminhar juntos. Ou vocês nunca ouviram a piadinha de que duas mulheres se conhecem em um dia, se beijam no segundo e se casam no terceiro?

O fato é que muito embora as mulheres pareçam mais flexíveis no que tange a sua excitação, o sexo é ainda vivido de maneira tensa e pouco lúdica. O jogo de sedução é o terreno conhecido, aprendido por séculos. A construção tradicional da sexualidade feminina já tem o não como resposta, por isso, pode não ser só uma manipulação consciente mas também uma projeção do comportamento de gênero na outra mulher. As duas querem, uma nega, e assim se mantém o desejo.

O pior disso é que essa dinâmica é típica das relações heterossexuais, o que acaba reforçando o heteropessimismo de qualquer maneira e o mito de que "se eu fosse lésbica, seria mais feliz".