Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
'Sou mulher hétero e me excito com pornô de sexo entre homens. É normal?'
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Uma leitora de 36 anos me escreveu para contar que foi casada durante dez anos com um homem com quem não tinha química sexual nenhuma. Já no começo do namoro ela sentia falta de uma pegada mais forte, de um beijo mais fluido. Decidiu se casar por conveniência. Transava raramente com o marido e se masturbava sempre, usando filmes pornográficos como estímulo. Se deparou com um vídeo de sexo a três, sendo dois homens e uma mulher. Em dado momento, os homens se penetravam, o que a deixou "louca de tesão". Desde então, passou a só assistir filmes de homens fazendo sexo com outros homens e se excita vendo dois homens se beijando na rua. Me pergunta, angustiada: "Isso é normal?".
Primeiro, reforço que o conceito de normalidade é muito relativo, pois ele se baseia nas regras e delimitações de cada cultura, em como se percebe o comportamento sexual. E isso varia inclusive com o passar do tempo. Atualmente, a sexologia entende que uma prática sexual só é um transtorno quando provoca sofrimento para uma das pessoas envolvidas ou para os que estão ao redor delas.
Mas voltando ao caso da leitora, vamos dar uma olhada nas pesquisas para ajudá-la.
Publicado em 2018 pela professora de criminologia Lucy Neville, o livro "Girls Who Like Boys Who Like Boys" ("meninas que gostam de meninos que gostam de meninos", em tradução livre, sem edição no Brasil) traz os dados da sua pesquisa realizada com 500 mulheres heterossexuais sobre o consumo da chamada pornografia gay: homens fazendo sexo com outros homens.
Ela categorizou em cinco os motivos mais citados pelas entrevistadas. Primeiro, o cansaço com a objetificação da mulher tão frequentemente explorado nos filmes pornográficos heterossexuais. Dizem que dá para perceber nitidamente que a mulher não está tendo um prazer naquela relação, mas atuando. Já no sexo entre homens, o tesão parece mais genuíno. Junto a esse motivo, reside também a percepção de que a pornografia heterossexual explora as mulheres e não respeita limite éticos.
A beleza do corpo masculino e a sua expressão de prazer e gozo também foram citadas, algo que não é tão explorado visualmente nos filmes de sexo heterossexual: o foco está sempre no corpo da mulher ou unicamente no pênis do homem, deixando todos os outros atributos em segundo plano. Aqui, cai por terra essa ideia de que mulheres só dão importância para os contextos românticos e que são menos visuais que os homens.
Sexoterapia: nem hétero, nem homo, entenda a fluidez sexual
Aliás, sempre apostei na teoria de que, se a mídia passasse a mostrar corpos masculinos seminus da mesma forma que fez maciçamente com o corpo feminino, as mulheres passariam a também desenvolver a visão como mais um sentido poderoso para a excitação.
Outra motivação levantada no estudo da Neville foi que as mulheres percebem também que há maior versatilidade, excitação e negociação no sexo entre dois homens --55% das entrevistadas se projetam nos homens, imaginando-se no lugar deles.
Vale lembrar que, o fato de uma mulher heterossexual gostar de pornô gay não inviabiliza que o tesão surja também da aproximação sexual com um homem, desde que haja excitação suficiente nesse encontro.
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