Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por que a maioria das brasileiras para de transar depois dos 45 anos
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Dizem que a curva da felicidade na vida faz um trajeto em forma de U. A gente começa lá em cima, achando a vida uma experiência linda e cheia de alegria, para depois ir descendo ladeira abaixo até chegar na parte mais difícil, a metade da vida. Dos 40 aos 50 anos, segundo pesquisa, é a fase em que as pessoas se sentem mais infelizes. Escolhas feitas com sabedoria nos fariam subir novamente. O que nos move aos 30 anos não é o que nos fará feliz ao 50, e isso também se aplica ao sexo.
Na pesquisa "Prazeres Universa + Tech4Sex", que entrevistou 1.000 mulheres de todo o país, a partir dos 45 anos há mais probabilidade de não se ter uma vida sexual ativa. Outra pesquisa sobre saúde da mulher, dessa vez norte-americana, mostra que as de meia-idade vão gradualmente perdendo o interesse pelo sexo, embora metade da amostra valorize uma vida sexual saudável.
Dá para colocar nessa conta a famigerada menopausa (pré e pós), que impacta muito a qualidade de vida e torna a resposta sexual feminina muito mais lenta. Na pesquisa "Prazeres", 32% das que passam por essa fase afirmam ter perda de libido, e outras 32%, diminuição de lubrificação vaginal. É a falta dos hormônios atrapalhando a nossa vida sexual.
Mas por que algumas sofrem menos do que outras se estamos todas na barriga do U? Por que algumas abandonam o sexo e outras correm atrás de tratamentos para manter uma vida sexual ativa? Porque quanto menos recursos para enfrentar o sofrimento da vida adulta, sejam materiais, financeiros ou emocionais, mais o sexo deixará de ter importância. As mulheres de classes sociais menos favorecidas são as que mais sofrem.
Encontrar espaço para o prazer quando se tem que cuidar de pais idosos, ao mesmo tempo que dos filhos, quando o dinheiro é escasso, quando o trabalho consome a maior parte do seu tempo é muito desafiador. Qualquer escolha que se faça nessa fase tem um peso enorme, pois não dá para fantasiar que na segunda metade da vida a fada madrinha venha te ajudar. A gente já sabe como a vida é, já sofreu desilusões, tropeços, já compreende as pressões sociais e econômicas, já está tentando controlar ansiedade, depressão e insônia.
Mais um estudo, agora britânico, descobriu que o estresse da vida moderna afeta mais as mulheres na meia idade do que os efeitos bio e fisiológicos da menopausa. O desafio de conciliar família, vida social e trabalho, desgasta, sobrando pouco tempo e energia para que se desfrute de uma vida sexual regular e satisfatória.
Certamente os homens passam pelos mesmos desafios, com a diferença de que a testosterona e as permissões sociais para o prazer, em detrimento do dever feminino com o cuidado, os impulsione a continuar desejantes. Não à toa que muitos, nessa faixa etária, se envolvem com mulheres 20 anos mais jovens, que estão mais esperançosas, disponíveis afetivamente e sexualmente, bem-humoradas e com mais tempo livre para preencher o vazio existencial deles. Talvez seja esse um caminho que as mulheres deveriam trilhar também, a fim de usufruir as benesses do sopro da juventude alheia.
Precisamos, como sociedade, olhar para essa realidade com cuidado. Não bastam só os tratamentos para melhora da resposta sexual, é importante repensar a carga de trabalho, as redes de apoio, o acesso a lazer, cultura e informação. Fica aqui, também, meu convite às pessoas para que desenvolvam melhor a capacidade de serem empáticas e treinem a amorosidade dentro da relação. Intimidade é a chave para a manutenção de uma vida sexual satisfatória, e a gente só desenvolve isso com quem sabe acolher as nossas vulnerabilidades
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