Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Já pensou passar o dia todo excitada? Esse problema atinge 4% das mulheres
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Imagine você passar boa parte do seu tempo excitada, sem que haja presença de desejo ou estímulos sexuais e, mesmo tendo um orgasmo, continuar nesse estado de tensão sexual? Assim acontece com quem tem transtorno de excitação genital persistente, ou TEGP, uma condição pouco conhecida, estigmatizada, sem consenso científico sobre origem, fatores de risco e epidemiologia, além de ser difícil de tratar. Estudos indicam que atinja até 4% da população feminina mundial —a disfunção só atinge mulheres.
Outro dia, escutei de uma colega, acometida pelo transtorno: "Não dá nem para pensar em sexo. Se estou relaxada, quero evitar qualquer coisa que faça pressão na pelve ou nos genitais: relação sexual, andar de bike, moto, ou mesmo dirigir."
A mulher pode não ter orgasmos ou ter vários, mas o sofrimento é intenso para ambos os casos. A atividade sexual pode ficar seriamente comprometida, já que não há relaxamento, e uma interação sexual pode acionar o medo de que a excitação não tenha fim, como me disse a amiga.
O primeiro artigo sobre o assunto foi divulgado em 2001, no qual cinco casos serviram de base para a discussão do fenômeno. Essa disfunção sexual acomete exclusivamente as mulheres, é caracterizada por não estar associada a interesse ou a pensamentos sexuais e/ou fantasias, sendo apenas uma resposta fisiológica, o que a diferencia do quadro de hipersexualidade.
A origem do problema não é clara. Quem se debruça a compreender os motivos que desencadeiam os sintomas da excitação genital persistente encontram grupos de motivações físicas: genital, como no caso de quem tem alguma infecção clitoriana, vulvar ou uretral; pélvica, como no caso das varizes pélvicas ou outras infecções; neuronal, como no caso dos traumas e alterações cerebrais, que podem levar a comprometimento da atividade motora - há uma correlação entre TEGP e síndrome das pernas inquietas, por exemplo.
Parece que mulheres com o transtorno tem hiperestimulação do lóbulo paracentral, mas ainda não se sabe como e porque isso acontece.
Além das causas físicas, ainda existem as de ordem emocional e as que podem estar associadas a transtornos mentais, como depressão, ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo.
Aliás, algumas mulheres relatam uma coincidência do início dos sintomas com a descontinuação do uso de antidepressivos. Parece que o fenômeno pode ter causas diferentes ou várias.
Alguns estudos[AC1] descrevem gatilhos: tensão, medo, raiva, ansiedade aguda, aborrecimento e estresse. Em menor número, algumas mulheres disseram que os sintomas podiam ser disparados pelo consumo de álcool, especialmente o vinho tinto.
O tratamento ainda é na base da tentativa e erro, a depender da principal hipótese do foco desencadeador de tal patologia, e envolve o uso de antidepressivos, fisioterapia pélvica, psicoterapia comportamental, técnicas de relaxamento, neuromodulação e cirurgias.
Ainda faltam muitos estudos para melhor esclarecimentos, porém é necessário que sua existência seja mais difundida e conhecida pelos profissionais de saúde e população geral, a fim de que a mulher acometida seja rapidamente encaminhada para tratamento. A urgência vem do fato de o TEGP ter impacto significativo na vida social e estar relacionado a graves alterações emocionais.
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