Por que as pessoas traem? Ser infiel hoje é uma covardia institucionalizada
Mercúrio nem está retrógrado e as últimas semanas foram marcadas pelos desenlaces do amor. Quando a Luisa Sonza conta, em rede nacional, que foi traída, mobiliza as dores dos que também já passaram por isso e daqueles que acreditam que amar é ter responsabilidade afetiva com o seu par — mas será que o seu par também pode falhar nisso com você? E você com ele?
No Brasil, mais de 70% dos homens e pouco mais de 50% das mulheres já foram infiéis. Alguns tiveram a sorte de ter parcerias mais maduras, que se dispuseram a entender a situação e trabalhar fundo nela, outros não foram 'descobertos'. Mas há os que passaram pela culpa de ver suas parcerias sofrendo, rejeição dos filhos, exclusão social, cancelamento, divórcio. Há também os que já não está aqui para contar, sete palmos debaixo da terra, vítimas da sandice que uma traição pode provocar. A infidelidade está associada à depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, pode desencadear violência doméstica, ISTs e frequentemente é motivo para a dissolução do relacionamento.
Pesquisas mostram que pessoas que não são impulsivas e tendem a analisar muito as situações antes de tomar decisões são as menos infiéis. Já as que têm instabilidade emocional e sofrimento psicológico, que estão sempre insatisfeitas com a vida ou com os cônjuges, traem mais.
Ser infiel em tempos atuais é o que eu chamo de covardia institucionalizada. As pessoas já esperam que vá acontecer e se acomodam na situação. Assumem que são covardes: ou porque não conseguem conversar com suas parcerias sobre seus desejos por outras pessoas, ou não querem se lançar em outro tipo de vida, temendo a separação. Quem sabe, as duas coisas.
Dilemas dessa natureza são comuns porque ainda temos dificuldade — como sociedade — de discutir a monogamia como único formato possível de relacionamento, tornando as conversas muito difíceis. E acolho as covardias humanas. No entanto, quando nos acostumamos com elas, a chance de alimentarmos nosso lado perverso é grande.
Colocamos muita expectativa nas parcerias e podemos estar satisfeitas com o que a parceria atual tem para oferecer, mas atraídas por outra pessoa que tenha atributos que atende as outras necessidades. O poliamor é uma saída para quem tem essa vivência, mas são poucos os que estão dispostos a enfrentar dilemas e acordos para mudar o formato da relação. A saída, infelizmente, é sempre a mais conhecida vida dupla, na total clandestinidade.
Em se tratando de infidelidade, tanto a satisfação conjugal quanto a sexual são fatores de proteção e o inverso fatores de risco. No entanto, muitas traições não estão relacionadas ao cônjuge, mas a aspectos individuais, como curiosidade e autoafirmação, anseio por vivências — pessoas com muito desejo sexual podem precisar de variação sexual — circunstâncias esporádicas como uma oportunidade em uma viagem. Às vezes, as pessoas buscam um espaço relacional onde não precisam ser pai, mãe, marido, esposa — resguardando que o erotismo não seja atravessado por questões de convivência e onde o(a) amante só conheça os aspectos mais encantadores da sua personalidade e vice-versa.
Só entendendo bem as motivações para a infidelidade é possível transformar a dor em algo produtivo. Não basta perdoar, mas mergulhar na verdade, se deixar afetar pela situação. Não é possível saber se, no futuro, alguém te trairá — de novo, em alguns casos — ou se você mesma não estará nos braços de um(a) amante. Só é possível apostar na intenção do casal fazer o relacionamento ser também um espaço de comunicação de dores, ambivalências e dúvidas.
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