Ana Canosa

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Opinião

Atitudes simples afastam a chatice diária e aumentam o afeto e a excitação

No sábado (30), assisti ao primeiro show do Legends in Concert, projeto que reúne dois grandes nomes da música, um nacional e outro internacional. No palco, Rod Stewart e Ivete Sangalo, cantando para uma plateia 50+ na maioria, com alguns 70+. Depois que eu derrubei um copo de gin tônica no pessoal da fileira da frente, me desculpando morta de vergonha, passei a observá-los. Eram dois casais e pareciam da mesma família: um na faixa dos 60 e outro dos 20 e poucos. Os mais jovens se esbaldaram ao som da Ivete, enquanto a matriarca dançava mais comedida. O senhor nem balançou a cabeça, sentado, só observando.

Me veio aquele sentido melancólico de como as pessoas podem estar desconectadas — da parceria, do momento, a cabeça sei lá onde. Quantos casais que já não se abraçam, não vão ali tomar uma cervejinha ou passear no parque de mãos dadas.

Foi só Rod Stewart começar a cantar com aquela voz rouca que a mágica se fez. E o senhor se levantou para ver melhor, quem sabe só precisava se reconectar com a música que lhe fizesse sentido, a memória de uma juventude, de um momento em que tudo talvez fosse mais intenso, mais esperançoso, mais ingênuo. Cantou "Forever Young" com entusiasmo, o refrão que de vez em quando nos encaixa tão bem e noutras só nos parece um lamento.

Ivete já havia mencionado como a música nos liga às emoções. Muitas vezes não é uma cena tão clara, uma experiência vivida, mas um estado emocional que se recupera ali, naquele instante, de maneira orgânica. Quando estamos distantes de nossa própria essência, a arte pode nos ajudar a recobrá-la. E assim também acontece nos amores maduros.

Ao som de "I Don't Want to Talk About it", o senhor abraça a esposa e dança com ela, de rosto colado, a cena comovente de quem se reencontra. Eles se olham sorrindo, uma bitoquinha, a chatice do dia a dia tão distante naquele momento. Ele só precisava de um estímulo para recordar como é bom estar nos braços dos que amamos, celebrando os encontros e a vida compartilhada. É assim no amor, é assim no sexo.

Boa parte das vezes o que falta aos casais é relembrar por que se escolheram um dia, o que funciona, o que os aproxima. Pode ser as mãos dadas em uma cena de um filme, um abraço no meio do dia, uma foto para recordar. Ir em busca desse espaço gentil faz crescer os afetos e a excitação, e torna o encontro uma grande celebração.

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