Ana Canosa

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Opinião

Se organizar direitinho, todo mundo transa no prédio sem incomodar vizinhos

Você certamente já recebeu algum meme sobre pedidos feitos aos condôminos de prédio, normalmente solicitações de vizinhos ofendidos, ou de síndicos no difícil ofício de sua posição, para que gemidos oriundos de atividade sexual sejam abafados, com o intuito de manter a ordem e a paz da comunidade local. Normalmente surgem como avisos pregados nos elevadores, cartas formais que escorregam por debaixo das portas ou mensagens no grupo de WhatsApp; alguns que eu chego a duvidar da veracidade, me parecendo mais uma produção caseira para virar trend nas redes sociais.

Mas o tema é interessante, pois trata de convivência social, o quão delicado é estabelecer o limite entre o público e o privado, ainda mais em se tratando de atividade sexual. Recebi esse aqui de um compadre meu:

"Relembrar é viver: Prezados vizinhos! Passando para lembrar que namorar é bom, é gostoso e é importante para a saúde do casal. O que não é bom é o nosso isolamento acústico do prédio, e nossos vizinhos não precisam saber quem tem uma vida sexual ativa, além do mais precisamos pensar nas nossas crianças (e nos pais delas), pois muitas ainda não entendem por que o vizinho(a) fica gemendo. Até mais e um bom dia a todos!"

A síndica aborda o tema delicado de maneira bem-humorada. Reforçou que o problema está na falta de isolamento acústico, e fica a dica para as construtoras, que deveriam incluir esse cuidado, a fim de garantir o lazer dos adultos.

Embora o "relembrar é viver" do início do comunicado me pareça uma introdução graciosa, também pode ter relação com essa lembrança melancólica dos tempos em que ela mesma fazia sexo, e gemia alto, sem preocupações, quem sabe em plena terça-feira às 15h. Talvez tenha sido, inclusive, uma indireta para o companheiro: lembra quando a gente fazia isso aí?

Certa invejinha do prazer das outras pessoas eu entendo que seja até bem comum; o problema é quando se torna um ódio colossal, nos que se encontram afogados na dureza emocional, o ser desejante empacotado e guardado em algum lugar, quem sabe junto às memórias fotográficas de tempos idos. Enquanto para alguns o som do sexo do vizinho pode ser inspirador, para outros é um tapa na cara, o gozo alheio escancarando uma falta que tem sido preenchida com o rancor.

Eu lamento mesmo que algumas pessoas não consigam enxergar a vida pulsando, na gritaria das crianças brincando ou na algazarra adolescente que acontece ao lado da piscina. Sim, tudo tem limite, para isso existe a lei sobre decibéis permitidos. Se os gemidos não estiverem extrapolando, cada qual que coloque o seu fone de ouvido. Se não for uma grande orgia, dura ali por volta de 20 minutos.

Também precisamos refletir sobre deveres e direitos. Às vezes na quadra os adolescentes e até as crianças xingam. Num jogo de futebol surge um "vai, caralho!!!", mas se a mesma frase sair após as 22h já vira caso de polícia. Se as crianças berram no parquinho enquanto os pais estão tentando participar de uma reunião online, o inverso deveria também ser possível, não é mesmo? Claro, não devemos apresentar sexo explícito para crianças, mas também não vejo nada de mais em dizer que os vizinhos estão namorando, se divertindo, fazendo brincadeira de adulto.

Pensando que todas as questões têm prós e contras a serem levados em consideração, já idealizo uma sociedade civilizada, na qual os vizinhos poderiam se organizar para um rodízio de cuidado com as crianças enquanto os pais curtem um bocadinho. Sábado e domingo para começar, uma agenda que fica já na portaria, todo mundo sabe de que se trata, cada qual se disponibilizando no melhor horário — isolamento acústico pela distância do parquinho para o adulto poder gritar sem culpa. As crianças brincam, mães e pais gozam, gerando uma felicidade geral no condomínio. Aquele, bom dia, para vizinhança com gosto na segunda pela manhã!

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Ele não quer mais transar. E agora?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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