Quando a abstinência sexual é sinal de violência e causa adoecimento mental
Adriana me envia um post interessante da psicoterapeuta Cintia Schwab, sobre como a privação de sexo pode ser uma violência que se pratica contra a mulher, a fim de submetê-la e manter o controle sobre ela:
"Quando mulheres são privadas de sexo em um relacionamento, a excitação sufocada vira raiva. Quando não são tocadas, abraçadas e não se sentem desejadas, mulheres são imediatamente lançadas ao descontrole emocional. Essa é a forma de tortura mais enlouquecedora e silenciosa num relacionamento."
"Eu pensaria que isso faz mais sentido para homens que para mulheres", me pergunta Adriana: o clássico homens estão sempre pensando e querendo sexo. Respondo que a violência tem múltiplas faces e que não fazemos sexo só para ter prazer ou descarregar tensão sexual, mas também para ter intimidade.
Então, qualquer pessoa, mesmo sem vontade de fazer sexo, tem necessidade de carinho, toque, afago, gentileza, cuidado. Não estamos falando do distanciamento sexual que acontece em fases da vida em que estamos menos desejantes, ou mesmo da diferença de ritmo sexual, tão comum entre casais. A violência está em fazer da abstinência sexual e a aridez afetiva um sinal de desprezo. Este abandono é uma das maiores causas de adoecimento mental. A tristeza, a raiva e a ansiedade vão minando o sentido positivo de estar no mundo.
Cintia reforça que as mulheres que sofrem esse tipo de violência muitas vezes não percebem que estão diante de um agressor — ficam desreguladas em suas emoções compram, gastam e comem compulsivamente. Concordo com ela. Embora a postagem de se trate de relações heterossexuais, homens e mulheres podem realmente manipular suas parceiras, colocando-as conscientemente em sofrimento. Quando só entendemos violência por ataques de fúria, xingamentos, humilhações e embates físicos, não enxergamos quando ela acontece pela omissão e o silenciamento.
Embora pareça que os homens resolvem mais fácil essa rejeição fazendo sexo com outras pessoas, os efeitos desse tipo de violência por parte de suas parcerias também são devastadores. Muitos se veem aprisionados pelo desejo da parceria, fazendo sexo somente quando a pessoa decide. São chamados de tarados porque desejam fazer sexo mais vezes na semana, diminuídos em sua importância e existência, resumidos aos seus anseios sexuais. Não estou falando de agressores, mas de homens privados do toque, do desejo e da legitimidade de sua vontade de transar.
Quando essa dinâmica perversa acontece nos relacionamentos, independentemente de gênero e orientação sexual, é tão previsível se afeiçoar a terceiros, que demonstram interesse e disposição para lhes aplacar a angústia e alimentar sua carência. Daí o destino será o mesmo: ainda serão acusados de querer demais, quando na verdade têm tão pouco. A única saída para interromper um ciclo de violência é estar longe de quem é agressor.
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