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Opinião

Há limite para a exposição? Quando falar de sexo atrapalha a vida conjugal

Desde os primórdios da civilização a sexualidade se expressa tanto na intimidade, quanto no ambiente público, principalmente através das muitas formas de manifestação artística. Pinturas, esculturas, desenhos rupestres já revelavam as práticas sexuais das pessoas, casais ou grupos - mas sem identificação. O pudor sobre a exposição da intimidade pessoal teve momentos mais ou menos intensos na história, a depender de como os valores morais incidiam sobre a sexualidade, e qual a sua finalidade na espécie humana.

Da antiguidade a idade média, diversos foram os limites impostos ao comportamento sexual. No Renascimento, por exemplo, o movimento artístico revela o corpo nu e as práticas sexuais condenadas. Já durante o século XX, a sexualidade teve sua maior expressão pública, seja na ciência, na educação, tecnologia, propaganda, moda, cinema, música e nas mídias de forma geral.

A intimidade sexual foi sendo revelada nas pesquisas de comportamento, nas narrativas literárias, nos fóruns de discussão. Mas foi com a exposição dos corpos e das práticas sexuais narradas em fotos e vídeos que cada vez mais o sexo ganhou rostos e sobrenomes.

Não há como discutir, com a popularização da tecnologia e das redes sociais, o sexo avançou o espaço público de vez. O que era da ordem do privado se tornou público, nos fazendo questionar: quais seriam os valores que sustentariam os novos limites da intimidade pessoal? Se todos estão falando sobre suas experiências sexuais de forma aberta e livre, em nome de que eu deveria renunciar a esse chamado?

É bom saber que fulano ou sicrano passaram por experiências que, a priori, parecem transgressoras ou que sofreram com conflitos e queixas sexuais comuns, que estão se beneficiando da ciência e da tecnologia para melhorar sua satisfação sexual, autoimagem e autoestima. A exposição do íntimo pode servir como informação, orientação e reflexão, além de ajudar na quebra de preconceitos e tabus, normalizando o sexo.

No entanto, existe também um fomento da dinâmica entre o exibicionista e o voyeurista, que se retroalimentam com as narrativas de intimidade sexual. Minha impressão é que muitas vezes a finalidade do discurso de práticas sexuais está mais a serviço dessa relação, do que na expansão do conhecimento. O 'gozo' está mais na repercussão do mostrar e ser visto, do que na educação sexual da população.

Há que se lembrar, que o pudor é também necessário para a preservação de intimidade, que a vergonha nos serve como contorno moral e que a ética é a única fonte possível de balizamento, diante da diversidade cultural e religiosa da humanidade.

Há quem suporte bem as reações das pessoas, diante das manifestações públicas de intimidade sexual, que não se abalam com haters, ou com o impacto que suas revelações causem nas pessoas de seu convívio. Alguns inclusive se alimentam disso, ou porque terão seus nomes nos trends, ou porque são viciados na contestação de regras sociais.

Mas grande parte das pessoas, principalmente as que estão em formação, como crianças e adolescentes, são extremamente sensíveis ao julgamento social. Sabemos que a transgressão é também necessária para o avanço da civilização, mas até que ponto a descrição sexual personalizada invade limites de uma privacidade que também é importante na manutenção do ego?

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Entre casais isso pode ser ainda mais complexo. Muitas vezes é a privacidade que torna o encontro entre duas pessoas tão especial. Alguns desejos e fantasias, mesmo que já não sejam um "escândalo" publicamente falando, podem envergonhar quem os tem. Quando este desejo é acolhido por uma parceria, favorecendo que seja verbalizado e praticado durante a relação sexual, a conexão de intimidade e confiança é reforçada. Na medida em que essa particularidade que é conhecida só pelo casal cai na boca do povo, perde-se a cumplicidade, tornando ordinário o que era excepcional.

Faz parte pensar e questionar. Mas cada um é cada um, com sua vida, limites, perfis nas redes e decisões de até onde compartilhar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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