Excitação, culpa e dor: 'Bebê Rena' mostra como sexo pode virar consolo
A minissérie Bebê Rena traz uma reflexão interessante - dentre tantas outras - sobre a função da atividade sexual em nossas vidas.
Dentre outras causas, não fazemos sexo só para procriar ou sentir prazer físico, mas também por amor, para estabelecer intimidade, para sermos desejados(as), para provar perícia, para demonstrar poder e para obter outros ganhos como dinheiro e até paz de espírito (como quando fazemos sexo para a outra pessoa parar de encher o saco querendo transar).
Mas Bebê Rena aborda uma motivação pouco discutida: o sexo para ser consolado.
A angústia, essa sensação que aperta o peito e nem sempre consegue ser nomeada, pode ter origem em uma avaliação miserável que temos sobre nós mesmos, ou sobre situações e vínculos relacionais que nos colocam em situação de desamparo.
Essa situação de fragilidade emocional abre espaço para a formação - ou manutenção - de relações não saudáveis, seja porque são abusivas ou porque reforçam sentimentos de menos-valia.
Quanto mais mergulhados na angústia, mais propensos a perder a bússola na avaliação do que pode nos deixar ainda pior.
Quando nos perguntamos por que não conseguimos sair de relações complicadas e que nos trazem prejuízos, embora a resposta possa ser complexa, em algum lugar, creia, o desamparo já fez morada.
Não à toa que abusadores sabem bem avaliar as suas vítimas, quase sempre pessoas que estão vulneráveis nesse campo. Se apresentam com o verniz do encantamento, oferecendo o que não podemos nos dar. Com o tempo, vem uma certa consciência da degradação emocional e, sem forças, as vítimas passam a se culpar pela dificuldade em romper com o ciclo do abuso emocional. Não tem forças para ficar, mas também não tem para sair.
O sexo passa a não ter mais função de obtenção de prazer, mas de ser confortado para não ser deixado à míngua.
Fazer sexo com alguém por quem sentimos asco, caso do protagonista da série, é um ótimo exemplo disso. Ele não sente atração sexual pela figura de sua stalker, tem inicialmente uma mistura de pena e simpatia, por ela, e depois raiva e nojo. Mas ele não consegue se desvincular daquilo que emocionalmente ela lhe oferece: a sua obsessão por ele.
A excitação sexual que emerge diante da figura dela é menos proveniente de sua corporeidade e mais da subjetividade envolvida na relação. O mesmo ciclo acontece na relação com o homem que o abusa. E ele não se perdoa por isso.
Talvez, o fato de ter sido abusado sexualmente, somado a uma identidade sexual não bem enraizada o tenham confundido ainda mais, ficando a relação sexual uma espécie de experiência de excitação, culpa e dor, não exatamente nessa ordem.
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