Ana Canosa

Ana Canosa

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Fica mal-humorado sem transar? Sexo não deve ser único aliado das emoções

É bastante comum escutar pessoas reclamando de seus cônjuges pelo excesso de solicitação sexual e a represália que sofrem quando não atendem à sua satisfação.

Há quem arrume briga, ou fique de 'bico', punindo com um silêncio hostil.

De fato, a atividade sexual está ligada à melhora do humor. Substâncias liberadas pelo caminho até o orgasmo promovem motivação e bem-estar.

No entanto, fica complicado depositar na outra pessoa a responsabilidade pela sua estabilidade de humor. A variação sobre a necessidade sexual individual é enorme, pois depende de fatores biológicos e emocionais e, muitas vezes, a queixa sobre falta de sexo é acompanhada de reações emocionais exageradas e que chegam a invadir limites éticos e legais.

A regulação das emoções é a capacidade de estabilizá-las, principalmente quando elas provocam comportamentos impulsivos e negativos para a pessoa ou aqueles à sua volta. A raiva é um bom exemplo, pois quando descontrolada pode fazer grandes estragos.

A desregulação emocional, por sua vez, pode também ser motivada pela desregulação física. Há quem fique extremamente irritadiço quando está com fome, frio, calor, sono.

Se pensarmos que o sexo também é uma necessidade básica, pode ficar mais compreensível o mau humor que algumas pessoas sentem quando não transam, ainda mais se associaram a descarga de tensão sexual como a única ferramenta possível para combater o desconforto.

São várias as razões para a dificuldade de calibrar emoções. Experiências passadas, como traumas, abusos ou perdas significativas, e situações de estresse crônico podem sobrecarregar os mecanismos de regulação emocional, tornando mais difícil para uma pessoa lidar com o que sente.

Alguns estudos sugerem que certas características genéticas e diferenças na estrutura e funcionamento do cérebro podem influenciar nessa capacidade. Condições como transtornos de ansiedade, depressão, transtorno bipolar ou transtorno de personalidade borderline podem afetar a regulação emocional de uma pessoa.

Continua após a publicidade

Padrões de pensamento negativos ou distorcidos, como catastrofização ou pensamento preto e branco, podem também influenciar negativamente. O abuso de substâncias, como álcool ou drogas, pode interferir na capacidade de uma pessoa de regular suas emoções de forma saudável.

Mas a regulação emocional também é aprendida. Crescer em um ambiente no qual as emoções são reprimidas ou mal gerenciadas não favorece identificar emoções e criar estratégias para lidar com elas.

A falta de habilidades sociais, como comunicação eficaz, resolução de conflitos e assertividade, pode dificultar a expressão e a regulação saudável das emoções. Se uma pessoa não aprendeu ferramentas eficazes de enfrentamento ao longo da vida, pode recorrer a comportamentos de evitação, explosivos ou autolesivos para lidar com emoções intensas.

O trabalho de consciência emocional implica no reconhecimento destes sentimentos e quais sinais físicos e mentais que acompanham as diferenças entre eles.

Aprender técnicas de respiração profunda pode ajudar a acalmar o sistema nervoso e a reduzir a intensidade das emoções. Identificar quais situações, pensamentos ou padrões de comportamento desencadeiam emoções intensas, ou seja, os "gatilhos" ajuda a desenvolver estratégias para lidar com eles de forma mais eficaz.

Em vez de reagir automaticamente, pessoas com dificuldade na regulação devem trabalhar em soluções para os problemas que as estão causando. Isso pode ajudar a diminuir a intensidade das emoções.

Continua após a publicidade

Priorizar o autocuidado, incluindo sono suficiente, alimentação saudável, exercícios físicos regulares e atividades prazerosas ajuda a estabilizar o sistema nervoso e a diminuir a vulnerabilidade emocional.

Para os que tem uma libido intensa e regulam o humor através do sexo, a fim de não sobrecarregar as parcerias, a masturbação é a saída mais rápida e óbvia, mas a prática esportiva também pode ajudar. Como libera endorfinas, a sensação de bem-estar associada ao cansaço físico funcionam como um elemento de relaxamento, rebaixando a tensão. Não é sexo, mas também proporciona prazer.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.