'Minha parceira se masturba ao meu lado': isso é ameaça ao relacionamento?
Marcelo me disse que outro dia, durante a madrugada, percebeu que sua esposa Joana estava se masturbando ao seu lado. Sentiu um misto de tesão, seguido de incômodo. Não sabia se a acordava, se tentava entrar na brincadeira ou se se masturbava também. Acabou assistindo silenciosamente e perdeu o sono, fritando a cabeça com pensamentos divergentes.
Ele nunca tinha presenciado essa cena, na verdade pouco pensava sobre esse assunto, talvez alguma vez tenha achado que sim, Joana devia se masturbar. Mas saber é uma coisa, presenciar é muito diferente, convenhamos.
Que atire a primeira pedra quem flagrou a parceria se masturbando pela primeira vez, e não se sentiu, no mínimo, estranho. É o tipo da coisa que a gente imagina que acontece, mas prefere não saber.
Pergunto a ele se não se masturba, se não assiste vídeos pornográficos, se não fantasia com outras pessoas ou cenas eróticas. Olha para mim com canto de olho, cabeça meio baixa, como quando criança que é pega roubando doce do armário da cozinha.
A masturbação é um ato de profunda intimidade, inclusive nem sempre tão sexy quanto retratado em filme pornô. Tu já se gravaste se masturbando, quando justamente não está fazendo isso no jogo erótico com o outro? Aviso que pode se frustrar.
E é justamente essa possibilidade de vivenciarmos o nosso autoerotismo, sem testemunhas, livres de outros corpos, outros olhares e possíveis distrações e julgamentos, que dá a masturbação essa categoria de quase unanimidade na vida das pessoas, ao longo de toda a vida.
É um momento seu, um lugar que ninguém ocupa. E por isso mesmo, pode ser sentida como uma ameaça ao relacionamento.
Não acredite que só se masturbam pessoas insatisfeitas sexualmente nos seus relacionamentos. Marcelo, por exemplo, não sente que a relação com a parceira é insatisfatória: elas fazem sexo, gozam e gostam de estar juntos.
Talvez, nos arroubos da paixão, a masturbação que não seja inspirada pelo tesão produzido pela parceria, chegue até a desaparecer. Por um período. Mas é comum ela voltar com ares de tensão sexual acumulada, e fantasia sexual modificada. Outros corpos, outras práticas sexuais. E é isso que dói para um coração apaixonado: não ser a única fonte de desejo sexual do outro. O ciúme nada mais é do que sentir a ameaça da relação, por um terceiro: por quem ela suspira?
Lembremos que somos seres sexuais, com desejos e fantasias e que a vivência anterior não desaparece porque você se apaixonou por alguém. Você pode transar bem com sua parceria, amar a pessoa que está a seu lado e ainda por cima desejar outras pessoas. Tudo junto e misturado. Essa é a maior característica do desejo sexual: seu caráter imoral, antiético e livre. Ele não se contenta facilmente com os as nossas convenções sociais.
Mas é verdade também que algumas pessoas podem ter menor apelo da libido e uma mente menos criativa. Ou ainda é a pessoa amada quem está protagonizando todas as suas cenas sexuais, o que atrapalha na hora de compreender a luxúria alheia. Porque, ó céus, eu não basto para o outro?
Ao confessar o seu ciúme pelos devaneios eróticos de Joana, Marcelo revela a ruim sensação de não se achar suficiente, a frustração de não ser o único desejado e o medo de ser traído qualquer hora dessas. Em que pese o fato dele já ter sofrido muito por amor nas relações anteriores e que o fantasma "do outro" ronde a sua imaginação a destituir-lhe do trono de preferido, eu arriscaria dizer que seus sentimentos são bem comuns.
Afinal de contas, enquanto a maioria dos mortais se masturba quietinho no chuveiro longe do olhar dos parceiros, testemunhar os múltiplos desejos diante da parceira com quem se divide a mesma cama, não é assim tão habitual.
Mas a isso se dá o nome de intimidade, algo nem tão fácil assim de conseguir e, portanto, deveríamos valorizar.
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