IA não julga: como o metaverso tem ajudado mulheres a chegar ao orgasmo
O Metaverso, palavra formada pela combinação de "meta" (além) e "universo", é comumente descrito como uma imaginária internet de próxima geração que pretende estabelecer um domínio virtual coletivo, ligando o tangível e o digital, e proporcionando a possibilidade de os usuários interagirem com pessoas a partir de ferramentas digitais que imitam o mundo real.
Um estudo publicado recentemente sobre o metaverso na saúde mental apontou uma pesquisa desenvolvida com o uso de IA na terapia sexual para mulheres com distúrbios de orgasmo.
Na prática, as participantes utilizaram uma plataforma de interação conduzida por avatares (representando a si mesmas e os terapeutas), com um programa específico para condução ao orgasmo, em 12 sessões online de 1 hora. Os resultados foram promissores. A totalidade das mulheres recuperou a capacidade orgástica, melhorando a satisfação sexual.
Segundo os pesquisadores, esse formato propicia maior liberdade para as pacientes, que não precisam se preocupar com o julgamento das pessoas sobre o seu comportamento sexual, pois estão interagindo com um 'avatar' em um ambiente 'terapêutico' controlado.
Sabemos que culpa, vergonha e medo são sentimentos que atravessam a sexualidade de muitas pessoas, dificultando obtenção de satisfação sexual e, portanto, falar com alguém, mesmo que seja um profissional, pode ser muito difícil.
O programa avança em propostas que incluem masturbação guiada, quando o terapeuta (avatar) está presente orientando a manipulação, uma prática que não é comum na terapia sexual clássica, onde a masturbação é indicada para os pacientes fazerem em casa.
Além disso, as mulheres puderam também interagir com seus corpos a partir dos seus próprios avatares. A ferramenta possibilitava um "reconhecimento genital" a partir da representação digital da própria usuária. O sucesso dessa interação se baseia na tese da regulação e controle de ações, pensamentos e emoções através da simulação incorporada ao corpo.
A codificação preditiva é uma teoria no campo da neurociência e da psicologia cognitiva que sugere que o cérebro constantemente gera e atualiza um modelo interno do ambiente baseado em experiências passadas e expectativas para prever informações sensoriais futuras. Esse modelo é usado para comparar as previsões com as informações sensoriais reais recebidas, permitindo que o cérebro minimize a diferença ou "erro de previsão" entre o que é esperado e o que realmente ocorre.
A ideia é que, através da interação em um ambiente controlado, a pessoa seja exposta a estímulos que desafiam suas previsões, sendo orientada a outros desfechos, permitindo "correções".
Imagino que outras disfunções sexuais, como o vaginismo, problemas de ereção ou ejaculação precoce, ocasionados por medo de 'falhar', possam também responder positivamente a essas intervenções.
Creio que os avanços nessa área são muito produtivos, e é necessário que os profissionais se adaptem aos meios de interação social a que estamos expostos, atualizando suas práticas. Sabemos que cenários imersivos e gamificação aumentam a motivação, o que pode facilitar a adesão ao tratamento e o uso desse tipo de ferramenta pode dar feedback rápido, facilitando que o terapeuta faça ajustes com prontidão.
No entanto, também conhecemos os comprometimentos éticos que precisam ser avaliados, como o fomento ao isolamento social, o risco de dependência tecnológica, conflitos sobre identidade pessoal - pois posso criar um avatar diferente do que sou - problemas com privacidade e segurança, dentre outros.
Como qualquer outra nova possibilidade de tratamento, mais estudos são necessários, com amostras abrangentes e metodologias cientificas padrão ouro, que validem a eficácia e minimizem impactos negativos, evitando ainda mais prejuízos na saúde mental e sexual.
Lembremos que anos atrás a psicoterapia online era encarada com muita desconfiança e hoje é um modelo de atendimento totalmente aplicado. Claro que muitas pessoas preferem o encontro presencial com seu psicoterapeuta, mas mesmo para essas pessoas, o uso de um aplicativo para guiar atividades pode ser somado ao acolhimento oferecido pelo sofá confortável que abraça empaticamente as vulnerabilidades humanas.
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