Ana Canosa

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Opinião

Homens podem pensar em sexo, mas e as mulheres? Pesquisa de app assusta

O Gleeden ouviu mais de 2000 pessoas, entre usuários e não-usuários sobre satisfação sexual, desejo e saúde sexual das mulheres. A diferença sobre o que os homens pensam sobre a sexualidade feminina e o que as mulheres de fato sentem sobre a sua sexualidade, em determinadas questões, foi bastante grande, o que me chamou a atenção.

Segundo os dados da população geral, do app destinado a pessoas com relações não-monogâmicas, enquanto 84% dos homens acreditam que para as mulheres o prazer sexual é muito importante, só 63% das mulheres o valorizaram nesse nível.

Olhando de forma isolada, é possível que os homens estejam mais conscientes sobre a necessidade de contemplar o prazer feminino nas relações sexuais, o que é positivo.

Em relação às mulheres, talvez muitas ainda não tenham descoberto o prazer sexual. Mas ao olhar para a discrepância de dados entre os gêneros, parece que o prazer da mulher está nublado. Se sexo não é tão importante para quase metade delas, o que é?

Será que se a pergunta sobre prazer sexual envolvesse intimidade, não teríamos dados mais aproximados?

Talvez o desejo que mobiliza a atividade sexual esteja ancorado em experiências não-genitais prévias e cotidianas, como momentos de lazer, relaxamento, esporte e uma boa interação com o par. Então não é o prazer sexual em si, mas o combo que leva a satisfação que é valorizado.

Para além do sexo

Outra diferença que eu achei interessante foi no índice das respostas sobre como a satisfação sexual afeta as mulheres em outras áreas da vida.

  • 69% dos homens disseram que melhora o humor, em contrapartida só 53% das mulheres responderam isso;
  • 63% dos homens acham que melhora os níveis de estresse contra 51% das mulheres;
  • 61% que melhora a saúde mental, contra 39% das mulheres;
  • 43% que melhora o sono, contra 34% das mulheres.
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Fica nítido como os homens atribuem os benefícios que sentem como positivos também para as mulheres, mas que talvez não saibam ao certo se as mulheres usufruem deles.

Em termos históricos, é recente a discussão sobre o prazer sexual feminino, e por isso não vemos muitas mulheres sabendo aproveitar a resposta fisiológica do sexo a fim de abaixar tensões de várias ordens.

É muito mais fácil encontrar homens que fazem sexo ou praticam a masturbação, quando estão agitados, ansiosos ou tensos, ou mesmo quando estão ociosos, como uma prática que pode gerar prazer, cujo custo-benefício é imbatível.

O que tira o tesão

Outra pergunta com grande discrepância nas respostas foi sobre o que os homens acham que restringe o desejo sexual das mulheres e o que as próprias mulheres sentem que atravessam negativamente o seu desejo.

Enquanto 47% dos homens acham que são os tabus em torno do sexo, só 16% das mulheres responderam afirmativamente isso. 50% das mulheres não se sentem restringidas e só 13% dos homens acham que as mulheres não o são.

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De novo me parece que há discordância sobre o que de fato ainda é tabu e o que diz respeito a preferências individuais.

Talvez alguns homens façam uma leitura equivocada de algumas negativas femininas, em relação a frequência e a práticas sexuais, delegando ao "tabu" a motivação principal, e não a experiência individual daquela mulher.

Já vi muitas mulheres recusarem fazer sexo anal com seus parceiros, devido a pouca excitação e o fazerem com amantes, felizes e contentes. Aqui é a intencionalidade do desejo que está em jogo, quando ele é estritamente sexual, ou quando ele está ligado a experiência amorosa.

Os resultados dessa pesquisa demonstram o quanto uma educação sexual baseada na dupla moral é nefasta - homens podem pensar em prazer sexual, mulheres não - gerando um abismo para os casais heterossexuais nesse campo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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