Por que homens estupram crianças? A resposta está longe de ser óbvia
A violência sexual contra crianças e adolescentes cometida por homens é um tema ardiloso, que exige considerar diversas teorias e fatores do ponto de vista psicológico.
Alguns casos são decorrentes de transtorno sexual pedofílico, uma atração sexual persistente e exclusiva por crianças, púberes e adolescentes.
No entanto, nem sempre é a pedofilia que motiva a ocorrência.
Homens com transtornos de personalidade, como o transtorno de personalidade antissocial, por exemplo, também podem estar predispostos a violar os direitos de crianças, devido à falta de empatia e remorso.
Conflitos internos, traumas infantis e problemas de desenvolvimento psicossexual, assim como outros transtornos de saúde mental, isolamento social e estresse são fatores de risco relevantes que podem levar ao comportamento abusivo.
Traumas, sociedade e até cérebro
Além disso, teorias de desinibição sexual sugerem que certas situações ou condições, como uso de álcool ou drogas, podem reduzir inibições e levar ao comportamento abusivo, mesmo em indivíduos que normalmente não exibiriam tais comportamentos.
Há ainda as teorias sociológicas e ambientais, que sugerem que o ciclo de ofensa sexual desempenha um papel significativo: indivíduos que sofreram violência sexual na infância têm maior probabilidade de se tornarem ofensores na vida adulta devido a padrões de comportamento aprendidos.
Normas culturais e sociais que objetificam crianças também promovem a desigualdade de gênero ou minimizam a gravidade da questão podem facilitar a perpetuação do problema.
Do ponto de vista biológico, algumas pesquisas indicam que anomalias na estrutura e função cerebral e níveis hormonais podem contribuir para a predisposição a ofensa sexual, assim como fatores genéticos e epigenéticos.
As teorias de controle e poder sugerem que a violência sexual é uma forma de exercer controle e dominação sobre uma vítima vulnerável.
Já as teorias de oportunidade indicam que ofensas sexuais podem ocorrer devido a oportunidades específicas, como acesso a crianças vulneráveis sem supervisão adequada, em ambientes onde o controle é insuficiente, como em casa, escolas ou instituições religiosas.
Há ainda os contextos que aumentam a vulnerabilidade das crianças, como pobreza, desestruturação familiar e falta de educação, também contribuem significativamente.
Qual a solução?
Nenhuma teoria isolada, portanto, pode explicar completamente por que homens estupram crianças e adolescentes e só abordagens integradas que considerem todos esses aspectos podem dar o caminho para combater esse terrível fenômeno.
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Quero receberSão elas:
Implementar programas de educação sexual abrangente nas escolas, abordando temas como consentimento, respeito aos limites pessoais e sinais de ofensa sexual, é essencial.
Ensinar crianças e adolescentes sobre seus direitos, autodefesa e como identificar e relatar situações.
Além disso, campanhas públicas de conscientização podem sensibilizar a sociedade sobre a ofensa sexual de vulneráveis, desmistificando mitos e estigmas associados ao tema e promovendo a compreensão das consequências e a importância de um ambiente seguro para que crianças e adolescentes se desenvolvam.
O combate ao machismo é igualmente importante, pois normas culturais que promovem a desigualdade de gênero contribuem para a perpetuação da violência.
Garantir que as leis que protegem crianças e adolescentes sejam rigorosas e efetivamente aplicadas é essencial, assim como implementar penas mais severas para os perpetradores e políticas que desestimulem tais comportamentos.
É necessário criar e fortalecer programas de apoio a vítimas, oferecendo assistência psicológica, médica e legal, acesso ao abortamento legal em caso de gravidezes, além de estabelecer serviços de proteção a testemunhas para garantir a segurança das que denunciam a violência.
Capacitar profissionais de educação, saúde, assistência social e segurança pública para identificar sinais e responder de forma adequada é fundamental.
Intervenções comunitárias são também importantes, desenvolvendo programas que incentivem a vigilância e o reporte de suspeitas, além de envolver líderes comunitários e religiosos na promoção de uma cultura de proteção e respeito às crianças e adolescentes.
Além disso, é importante que se ofereça programas de apoio e reabilitação para agressores e usar a tecnologia para monitorar e prevenir ocorrências.
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