Ana Canosa

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Opinião

'Ele me trai com prostitutas': vale a pena manter monogamia só de um lado?

Silvana me contou que, durante todo o casamento que já tem até bodas de prata, o marido a traiu esporadicamente com garotas de programa. Quando ela descobriu a primeira vez, quase pediu o divórcio e ficou desconfiada desde então. Que ela saiba, ele teve uma "recaída" em uma viagem de trabalho, quando comprou o que ela chamou de "kit sexo" — tadalafila, gel lubrificante e preservativos.

Desde então ela não faz mais sexo oral nele, só transa com camisinha e não troca beijos ardentes, pois quer lhe dar uma lição, na esperança de que ele não seja infiel novamente.

Silvana diz que os dois fazem bastante sexo e que ela sempre foi uma mulher desejante, que não se recusa a práticas sexuais — então por que o marido busca as garotas de programa?

Desejos múltiplos

Explico a Silvana que, ao que parece, as relações extraconjugais dele não têm nada a ver com ela ou com o casamento. É da ordem do desejo dele.

Não é preciso que exista uma falta na relação para que alguém a "preencha" com as outras pessoas, porque é a ausência inerente a todas as relações que está em jogo — a impossibilidade de Silvana ser outras, porque ela é só a Silvana. Assim como ele é só o Tulio, marido da Silvana, portanto não é Jorge, nem Marcelo, nem Estevão, ou seja, não é outro homem, com outro corpo, outra pegada, outro pênis, outra voz, outro olhar, outra idade, outra história.

Sinto muito Silvana, mas o desejo é múltiplo e, mesmo que seu marido goste de você e goste de transar com você, ele pode ainda querer variar. E você também, não é verdade? A questão é que ele se deu esse direito e você não. Sacanagem, eu sei.

Está aí uma reflexão para vocês: vale a pena manterem um projeto supostamente monogâmico só para o seu lado?

Digo a Silvana que saia desse lugar da mulher que nunca olhou para o lado, ou desejou outros corpos. Tá certo, que ela se conteve e ele não — outra questão para conversarem — os desejos da Silvana são contemplados nessa relação, ou só os dele?

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E não me refiro só aos desejos sexuais, mas o desejo de viajar, de fazer cursos, de sair com as amigas e amigos para rir, de mudar de profissão, de assumir outros projetos, de pedir comida, de comprar um celular novo, de andar descalça na praia, de tocar violão ou assistir um show.

Sei lá, Silvana, dá uma olhada nisso. Túlio não pode ser a única pessoa desejante desse casamento.

Por que garotas de programa?

Sobre o fato dele escolher garotas de programa para suas puladas de cerca, pode ser justamente pelo distanciamento emocional que esse tipo de relação comercial costuma se dar.

Bem verdade que não é possível controlar as emoções, mas muitas pessoas preferem variar sexualmente com outras para quem o jogo aparentemente está claro: é só sexo e pronto.

Além disso, a ideia de pagar alguém pode ser excitante para alguns, oferecer uma experiência de poder.

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Outra razão comum para a escolha de profissionais do sexo, é a realização de alguma fantasia ou prática sexual mais específica, cujas parcerias se recusam ou nem sabem da existência, porque os cônjuges não contam com receio de serem julgados — daí pedem para profissionais do sexo as realizarem.

Por último, explico a Silvana que há pessoas que tem o fetiche por garotas de programa, por elas representarem uma certa liberdade sexual, a mulher que faz muito sexo, que não está à procura de romance e que já teve muitos parceiros. Alguns homens têm uma sensação mista de admiração e repúdio por mulheres assim.

Qual desses motivos levam Túlio a desfrutar dos serviços das garotas de programa? Só ele poderia nos contar.

Silvana finaliza me dizendo que o ama como pessoa e pai que ele é para os filhos, daí insisto para ela incluir nesse pacote a ideia de que ele tem desejo por outras mulheres e que é capaz de mentir para realizá-lo.

É do Túlio, é bem comum, a covardia humana, mas nem por isso dói menos nela. Então, terão que chegar a algum acordo mais honesto sobre como levar a questão do desejo daqui por diante.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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