Ana Canosa

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Opinião

'Tendência' no TikTok, penetração sem movimento garante a virgindade?

"Soaking" é o ato de penetrar sem movimento. Em tradução livre a "imersão" seria a introdução do pênis no canal vaginal sem o movimento de vai-e-vem, a fim de garantir que a relação não seja caracterizada como uma "relação de verdade".

Diz-se que é praticada por jovens religiosos, e vem sendo popularizada no TikTok e se tornando uma "tendência".

A primeira coisa que me chama a atenção é a necessidade de driblar a abstinência sexual até o matrimônio, proposta ainda presente em alguns contextos religiosos. De um lado, os jovens se iludem em acreditar que uma relação sexual "verdadeira" precisa de penetração, que outras práticas como sexo oral, anal, masturbação mútua, não se caracterizam como sexo. É como criar uma realidade paralela, completamente irracional, uma história da carochinha, um delírio.

Do ponto de vista socio-cultural e científico, embora ainda se encontre resistência de algumas pessoas e setores da sociedade, a tendência geral, é equiparar práticas, pois embora a penetração tenha o seu impacto, outras ações sexuais também tem o seu significado, atravessando o emocional das pessoas. Não é só a conjunção carnal que implica em responsabilidade sexual.

Portanto, ao praticar qualquer uma delas, bem como a tal penetração sem movimento, esses jovens estão rompendo com o valor da "abstinência sexual" de sua religião. Por sua vez, o fenômeno deveria chamar a atenção dos religiosos, convidando-os a enfrentar a realidade que se desdobra diante de seus olhos e, quem sabe, rever algumas concepções sobre sexualidade.

Além disso, castidade é um pressuposto bem mais profundo que ser ou não "virgem" ou abstinente sexual, diz respeito a integração da sexualidade na personalidade e no projeto de vida pessoal de cada um de nós. Ou seja, uma pessoa pode não ter relações sexuais, manter seu hímen intacto (seja ele natural ou reconstituído) e ser alguém completamente desequilibrado afetivamente, alguém que não aceita a própria identidade.

Sobre a prática do soaking em si, fico imaginando a tensão emocional envolvida. Pode ser até gostosinho repousar o pênis no canal vaginal, percebendo as sensações agradáveis, mas o ímpeto natural do movimento de vai-e-vem, do rebolado dos quadris terá que ser contido, promovendo uma espécie de tortura, fazendo presente a culpa, naquele ato proibido.

Talvez seja melhor mesmo nem transar, pois sabemos que tensão e repressão sexual são fatores comuns em pessoas com disfunções sexuais, que não conseguem se entregar ao prazer, felizes, conscientes e contentes. Ao tentar driblar a regra, o soaking pode se tornar o próprio castigo.

Também gostaria de reforçar que, mesmo sem vai-e-vem, homens podem não controlar a ejaculação, portanto se não estiverem usando preservativo e a mulher estiver ovulando, uma gravidez pode acontecer. Além disso, sem preservativo e mesmo sem ejaculação, há o risco de contrair ISTs.

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Por fim, vale a pena dizer que "tendência" em redes sociais é um conceito bem questionável, já que elas são produzidas. Sexo é um tema que mobiliza e quanto mais diferente e absurda seja a temática, mais engajamento haverá. Mas também rapidamente passará. Duvido que essa venha para ficar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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