Ana Canosa

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Opinião

Com 'vida pela frente' e medo de ser pai, ele deixou de gozar com a mulher

Ricardo tem 43 anos e "uma vida pela frente", como ele mesmo gosta de frisar. Me procurou porque está com dificuldade de ter orgasmo na relação com a mulher, o que é uma novidade na vida dele. Ele sente que a excitação é suficiente para disparar o orgasmo, mas por alguma razão que ele não consegue entender, ele fica no quase... daí se cansa e para com a penetração.

Você tem "uma vida pela frente" era a frase preferida da mãe dele, quando ele era adolescente e estava iniciando a sua vida sexual.

A mãe, como acontece com boa parte da população brasileira, era quem fazia a educação sexual dos filhos, a seu modo: fazia o alerta sobre o uso do preservativo para não pegar doenças, do cuidado com o corpo das "moças" e principalmente para não engravidar ninguém.

Um dia, ela fazendo comida (ele até hoje não sabe exatamente como aquela conversa começou) deu uma aula sobre métodos contraceptivos, usando a colher de pau como modelo de tudo: pênis (encapou a colher com plástico filme para explicar a camisinha), útero (pensa que o útero é assim, mais ou menos, como essa parte da colher...), colo do útero (é mais redondinho, mas pensa que é...) e explicou onde ficava um DIU e onde era colocado um diafragma, que até hoje ele nunca viu ao vivo.

Os minutos finais da conversa sempre acabavam com descrições dramáticas sobre os problemas de uma gravidez precoce, e com a já famosa "você tem a vida pela frente". O pai, mais caladão, limitava-se a perguntar se ele já tinha transado, como foi e se tinha alguma pergunta a fazer.

Ter filhos

Então Ricardo se casou, aos 35 anos, quando achou que tinha aproveitado bem a vida de solteiro.

Tânia, uma mulher independente, muito carinhosa e criativa, foi uma paixão deliciosa que nasceu no trabalho. Segundo ele, a vida conjugal era prazerosa e cheia de cumplicidade e o sexo sempre foi bom.

Quando perguntei sobre o desejo da paternidade, ele fez um descritivo racionalizado sobre o projeto família e passou bem uns 10 minutos discorrendo sobre as dificuldades que alguns amigos haviam passado com o nascimento dos filhos, inclusive a diminuição da atividade sexual.

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Por ele podiam aguardar mais um pouco, Ricardo me disse, não fosse o fato de que o relógio biológico da Tânia, agora com 40 anos, estava contando as horas.

Embora não tivessem decidido realmente começar a tentar, o assunto estava no ar. De novo se arrumou na poltrona e coçou a cabeça.

Mas o que você faz com a vida toda que tem pela frente?

Por algum motivo bastante curioso, ele não tinha feito a associação mais óbvia entre não ejacular e evitar a gravidez. Muito embora a mulher ainda não tivesse parado com o anticoncepcional oral, seu corpo já estava reagindo ao fato de que ter um filho era abrir mão, na cabeça dele, de todas as benesses de viver em casal sem rebentos.

Mas como ia dizer para a mulher, que não estava pronto, já que ela também não tinha a "vida toda pela frente", para engravidar?

Passamos sessões e mais sessões esquadrinhando a ambivalência entre seu desejo de ser pai e abrir mão do lugar privilegiado que ele tinha guardado como ideal.

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Da necessidade de envolver a parceira nessa discussão, sem que o tema se tornasse um grande problema. Visitamos todas as paternidades da sua família e foi em busca de ouvir sobre a transformação que a paternidade fez na vida dos amigos e outros homens que conheceu pela rede.

Não demorou muito, voltou a ejacular, ao mesmo tempo que dentro dele foi nascendo um pai. Demoraram mais uns meses até que decidissem pela gravidez e, por sorte não tiveram grandes percalços no caminho. Mês passado comemoraram o primeiro Dia dos Pais.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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