Ana Canosa

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Opinião

Sem química, Monica levou um fora. Afinal, quanto beijo e sexo importam?

Monica, 35 anos, entrou no consultório visivelmente abatida. A tristeza estava estampada em seu rosto, refletindo uma decepção que, para ela, parecia mais uma vez confirmar suas inseguranças.

Nas últimas semanas, ela vinha flertando e trocando mensagens com um homem de 38 anos, um colega da aula de inglês. Havia uma conexão ali — pelo menos foi o que ela pensou. Eles compartilhavam interesses em comum, como fotografia, esportes e literatura, e essas semelhanças a animavam.

Depois de quatro anos sem namorar, Mônica viu nele a possibilidade de estabelecer um vínculo romântico. A empolgação crescia a cada mensagem trocada, e a expectativa de finalmente saírem juntos tornava-se cada vez mais real. O encontro, enfim, aconteceu: um show, o roçar dos braços, risadas e o desejo velado pelo primeiro beijo.

Quando o momento finalmente chegou, ao final da noite, Mônica viu fogos de artifício. A excitação subiu rapidamente, assim como a esperança de que aquele beijo poderia ser o início de algo especial.

O fora

Porém, a sequência dos acontecimentos foi um duro choque de realidade. Após aquela noite, enquanto ela se deixava embalar pela fantasia de uma nova relação, o comportamento dele mudou. As mensagens começaram a rarear, as respostas tornaram-se frias e distantes. A presença constante dele transformou-se em silêncio.

Mônica, como tantas mulheres, se perguntou: "Será que fiz algo errado?". Ela revisou mentalmente o encontro, tentando encontrar algum equívoco, talvez algo que pudesse ter afastado o colega. A culpa, como de costume, recaiu sobre si mesma.

Embora sentisse que o distanciamento dele significava o fim do envolvimento, Mônica decidiu confrontar a situação e buscar respostas. Perguntou diretamente o que havia acontecido, por que ele estava se afastando. A resposta veio de maneira cuidadosa, mas honesta: "Não senti química em nosso beijo".

A tristeza de Mônica transformou-se rapidamente em raiva. Proferiu meia dúzia de palavrões cabeludos, chamando o homem de imaturo, irresponsável, "heterotop narcisista".

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Como assim ele não gostou do beijo dela? Ela se perguntava com indignação. Havia algo na ideia de rejeição que parecia insuportável, algo que feria sua autoestima de maneira quase visceral. O que ele queria dizer com "falta de química"? Ela, por acaso, beijava mal?

E ele é obrigado a gostar do seu beijo? - perguntei. Em algum nível, ela sabia que não. Ainda assim, o desapontamento era profundo. Como podia alguém com quem ela se sentiu tão conectada ser afastado por algo que, para ela, parecia tão pequeno?

Era difícil não pensar na responsabilidade afetiva que tantas mulheres, incluindo ela mesma, esperam de suas parcerias. Mônica acreditava que a honestidade dele, embora cuidadosa, soava fria e incompreensível. Será que a falta de química era motivo suficiente para ele se afastar? Para ela, não. Mas, para ele, a questão era simples: a atração sexual era importante, e o beijo que não funcionou bem foi o fator decisivo. Esse ponto era algo que Mônica, a princípio, se recusava a aceitar.

"Ele não deveria dar uma chance?", ela questionava. Entretanto, a raiva camuflava uma vulnerabilidade mais profunda — a sensação de rejeição e a confirmação de suas inseguranças, que ela tanto tentava controlar.

Para Mônica, a frustração não era só pela ausência de reciprocidade, mas pelo significado simbólico que aquele beijo carregava. Era uma chance que ela esperava há anos, um momento em que depositava esperanças de conexão. Para ele, porém, a ausência de química sexual era razão suficiente para encerrar o envolvimento.

Mônica ficou em silêncio por alguns segundos depois de compartilhar a situação, e suas emoções. Ela sabia que não poderia controlar os sentimentos do outro, mas a dor da rejeição ainda era forte.

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Não é tudo, mas importa

Pedi para que me elencasse qualidades em um "parceiro ideal". Disse, entre outras coisas que "fosse bom de cama". Me detalhou práticas e jeitos. Não seria legítimo que ele também desejasse alguém cujo beijo o excitasse?

Sexo não é tudo, mas também não deve ser negligenciado, para quem o valoriza.

Conheço muitos casais que, na ânsia de formar uma família, se unem a parcerias com quem tem muita conexão afetiva, mas quase nenhuma química sexual. No começo, quando a novidade está presente, fazem bastante sexo. Depois ele desaparece. E química sexual não se cria artificialmente, ou se tem, ou não se tem.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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