Ana Canosa

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Opinião

'Você não é homem': explosão violenta é símbolo da guerra de egos masculina

O que se observa na discussão entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal e José Luis Datena no último debate do domingo (15), na TV Cultura, com tentativas de humilhação de um lado e violência física do outro, é um exemplo claro de como muitos homens reagem à própria vulnerabilidade: insultando outras pessoas para se sentirem superiores.

Homens que estão imersos em uma cultura que valoriza a masculinidade tóxica, onde força, dominação e controle são considerados virtudes, podem internalizar a ideia de que precisam provar constantemente seu "valor" como homens.

Quando sentem que seu poder ou masculinidade estão sendo desafiados — seja por outros homens ou por mulheres — eles podem reagir de forma violenta como uma maneira de reafirmar sua "força".

Desde cedo, muitos homens são incentivados a competir uns com os outros, seja por status social, sucesso profissional ou atenção de parcerias românticas.

Observe pré-adolescentes e adolescentes nos seus grupos de pares e verá como, mesmo entre amigos, expõe e zombam das características dos outros consideradas menos interessantes, para se sentirem melhores que os outros.

Não estou nem falando do extremo, o bullying, mas o hábito de zoar o amigo, ou porque ele estuda demais, ou porque tem um cabelo espetado, ou porque está acima do peso, ou porque ainda não pegou ninguém.

Longe de ser uma técnica positiva de estabelecimento de vínculo, entendo que isso se dê nesse momento de maior insegurança, quando a vida os lança para a convivência em grupos e se apresenta uma necessidade de afirmação. O problema é que esse mecanismo de defesa do ego acaba se estendendo vida afora, dificultando o aprendizado do gerenciamento das emoções.

Homens são ensinados a reprimir sentimentos como tristeza, medo ou vulnerabilidade, sendo incentivados a mostrar força e controle. Quando confrontados com frustrações, eles têm dificuldades em lidar com essas emoções de maneira saudável, provocando explosões de raiva ou violência.

No campo da sexualidade, é facilmente observado quando perdem a ereção por qualquer motivo comum: cansaço, estresse, preocupação. O que deveria ser encarado com naturalidade se transforma em algo tão ameaçador, que uma disfunção sexual realmente se estabelece em decorrência do medo de "falhar" no que entendem por desempenho a cumprir.

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Não é infrequente que muitos se isolem, culpem as suas parcerias, evitem buscar ajuda ou alimentem sentimento de menos valia.

Para piorar, a competição entre homens muitas vezes pode envolver o uso de mulheres como "troféus" ou objetos de status. Essa objetificação pode desumanizar as mulheres, tornando-se alvos de violência quando um homem sente que sua posição de poder está sendo ameaçada.

Expressam a frustração controlando ou agredindo mulheres como uma forma de restaurar seu senso de poder. Os números de violência contra a mulher estão aí, só não os ver quem não quer.

Quando um debate político envolve a provocação do "seja homem", para reproduzir um padrão de violência - seja na humilhação verbal ou no ataque físico - ele vira palco para uma obsoleta e nefasta disputa de egos frágeis e pueris.

Não é sobre a comunidade, os menos favorecidos, os planos para a melhoria da vida dos cidadãos: é sobre a experiência pessoal de potência e vaidade.

Chega a dar vergonha testemunhar o "ser homem" reduzido a meia dúzia de ataques para que se prove uma supremacia fálica do modo mais primitivo possível.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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